Mittwoch, Dezember 27, 2006

miojo de morango

O sentimento que tenho em relação a David Foster Wallace se compararia a um miojo de morango. É tão nojento e irritante (apenas a idéia da existência de um miojo de morango) que sinto cócegas. Cócegas são semi-orgasmos, mas incomodam. Incomodam e fazem rir; mas agora não consigo rir. O cheiro de carlton e cerveja é como um miojo de morango, a mistura do sabor e do nojo, e o nojo é um luto, um trabalho intrapsíquico de elaboração da perda de um objeto amado externo. A perda da razão, a vitória dos DESEJOS. Percorrem meu corpo, sujam minha roupa, pedem um picadinho no bar maroto do centro pelas duas da manhã. Desejos fedem; desejos não se realizam, quando se realizam, são felicidade. Felicidade é ruim, felicidade é contentamento, abnegação, busca encerrada. DESEJOS comandam. David Foster Wallace é puro desejo; desejo de chocar, de incomodar, desejo de não se realizar e continuar sempre travando como um mouse sujo de cabelos e restos de unhas. David Foster Wallace é um grito no ar, perdido, sem fim, sem comunicação, puro LIBERTAR. O LIBERTAR não tem fim, a liberdade não pode nunca alacançar um objetivo, a liberdade é o desejo de estar solto de todas as amarras e as amarras são justamente a necessidade de LIGAÇÃO; a ligação COMPÕE, estabelece, dá vida a novos compostos, químicos, gramaticais; seja o que for, sempre faltam. Faltar, perder, emburrar; regras de uma vida sem escolha. É preciso desembaraço mas, normalmente, a liberdade é como uma licença.

[Ter liberdade é ter permissão ou uma maneira de agir com audácia.]


A FESTA

No dia da festa, pela primeira vez em cinco anos, ele dormiu na posição de um homem infiel. Peito pra cima, braços cruzados em cima do peito; significa que ele até quer ser fiel, mas não consegue. Peito pra cima, braços cruzados, mãos segurando a cabeça, significa que ele é um infiel assumido; um machão orgulhoso de seus culhões fedidos a baixos critérios. Barriga pra baixo, corpo voltado ao colchão; ele quer sexo.


Três, quatro, cinco carreiras; correrias, adaptadores de MP3, danças caretas e frenéticas; só nós dois no salão. Uma criança dormia. A outra, de olheiras fundas, jogava o video-game do papai-noel. O pai das crianças, anfitrião da festa, constrangido, não sabia de adaptadores de MP3, não sabia das crianças, mas sabia das sete, oito, nove, dez, onze carreiras. Constrangido, no banheiro. Constrangido, e vermelho. Constrangido, e malvado. Egoísta, pérfido, só queria compartilhar. Treze, quatorze, quinze carreiras. Ele, o meu amor, no dia da festa, constrangido, mas de constrangimentos bonitos, completos e partidos. Partidos pela necessidade constrangida de compartilhar, de não deixar o pai das crianças que ele, meu amor, amava, ali, sozinho, pérfido, dezoito, dezenove carreiras. Naquele dia da festa ele compartilhou de toda imundíce que seu constrangimento até então o havia impedido de compactuar mas, naquele dia da festa, vendo o pai, assim, sozinho, fodendo com todos, teve que foder também. E dormiu, segundo algum programa de televisão que as donas de casa assistem pela manhã depois que as crianças acordam e enquanto esquentam o leite no microondas, como um homem infiel. E a festa acabou na garagem disfarçada de quarto, com goteiras ao lado da cama e meu amor vomitando o peso de um caráter morto. E o desenho da criança, que dormia ou jogava (ninguém mais sabia) ficou ali, escorregou do imã da geladeira que ficava na garagem gelando as últimas cervejas enquanto eu fumava e pensava nele (o desenho) parado na poça da goteira, submerso. Olhei bem pra ele, uma festa de lápis de cêra que compunha um castelo, afogado. E ele, meu amor, meu anjo azul, entregue ao sono dos infiéis.

Compartilhar imundícies é abdicar da liberdade dos princípios acorrentados.

Sonntag, Dezember 17, 2006

Die Unabhängigkeit

[dureza: grau de resitência de um material à penetração de outro material]
Unabhängigkeit significa independência; a independência é a ausência de ligação com movimentos específicos e ideais compartilhados em geral. Pode ser também a liberdade condicionada por bens pecuniários; a pecúnia é o conjunto de numerário sob qualquer forma existente de valor utilizada para a troca; o valor é o preço atribuído a alguma coisa ou uma forte estima dedicada a alguém ou alguma idéia. Vasos de cerâmica não tem valor, mas só o pão-duro sobe na vida. O pão é um alimento que quanto mais duro mais esfarela-se. Os degraus são sempre escalados por migalhas; a dureza é uma pérfida ilusão.

Samstag, Dezember 16, 2006

Hallo, wie geht's?

Me sinto
totalmente
embriagada
e não poderia deixar passar essa vontade de escrever sem compromisso e assuntos determinados, não que em posts sóbrios eu os tenha, mas sempre os embriagados fazem mais sucesso. Acabo de ler meu post sobre "videodrome" (welcome to the new flesh) e penso que ele soa um tanto sóbrio-mangolão. Na verdade, a maioria das coisas que escrevo soam um tanto mangolão, por isso não sou digna de pertencer a algo do tipo o Insanus. E isso me lembra o Gabriel Pillar que morreu num acidente de carro embriagado e o post sóbrio que escrevi sobre isso e soou tão ridículo, por que eu falava de ausências que poderiam ser tanto falhas quanto saudades e de que fiz meu irmão de 9 anos jurar que nunca dirigiria bêbado (dizem que não funciona), que acabei apagando. Depois a proliferação de homenagens internéticas me fez sentir um pouco de enjôo. Sei que ele era um cara bacana, mas não posso evitar um certo asco desse romantismo compartilhado em rede mundial. Provavelmente os integrantes do Insanus valorizam essa relação mais do que eu, e mais do que isso, a utilizam muito bem no quesito "Blog"; sem parecer babação de ovo, os integrantes do grupo comentam uns aos outros em tom irônico sem perder a elegância amorosa que uma bela amizade exige. Mas não era disso que eu queria falar. Não sei do que eu queria falar.

Eu nunca sei do que eu queria falar, por isso fico dando voltas e voltas e me surpreendo quando alguém me leva a sério. Acho que eu não devia ter um blog. Uma amiga disse que só visita blogs em busca de evidências da vida pessoal do blogueiro; EIS AQUI UMA BÊBADA REVELANDO SEUS ASCOS:
1.Pensar que meus avós vão morrer em breve.
2.Pensar em adultério.
3.Pensar que estou escrevendo um diário em rede mundial.
4.Como a maioria da mulheres, pensar nos meu defeitos capilares e corporais.
5.Me sentir burra e vazia.
Ok, estou por dentro do aumento que os políticos revindicaram para si mesmos, estou por dentro da declaração de Lula sobre os esquerdistas jovens e velhos e o modo escroto como tentou se retratar elogiando o velhinho Niemeyer que tem 99 anos e continua comunista. Eu leio Correio do Povo, e daí? Ainda não tenho uma opinião formada a respeito do empobrecimento da classe média por culpa do Bolsa Família mas acho palha que um cara que a receba e não cumpra a cartilha tenha apenas 30 dias de suspensão. Também não gosto de notícias a respeito de obras públicas e nunca entendo os conflitos na Faixa de Gaza mas,ao expressar esse meu sentimento de falta de informação meu companheiro de cevas e churrasquinhos sentenciou:"São basicamente disputas territoriais". Lá e aqui.

Durmam bem. Talvez quando vocês estiverem aqui não seja noite, mas o que importa é o momento, e talvez esse seja meu pior defeito.

Pais e Filhos, 1970.

Welcome to the new flesh!

[VIDEODROME 1.filme de Cronemberg que mesclou com louvor as mentes assassinas de "Scanners" e o furor sexual-mortal de "Vício Maldito" e ainda conta com a participação de Debbie Harry, vocalista do Blondie. 2.programa de TV supostamente cancerígeno.]
"A palavra do vídeo transformou-se em um pedaço de carne"; a televisão injeta tumores que causam HELLucinations do tipo guardar pistolas na barriga e sentir palpitações ofegantes da mulher desejada em caixas de som, aparelhos de ar-condicionado e fitas VHS. A realidade da imagem é mais forte do que o caos do corpo, humanos são executados como reprodutores de imagem; pause, play, stop.
Uma pausa é uma breve interrupção e a interrupção é um breve cessar da velha carne; fedida, suada e mole contra a nova flesh tenra como um robótico caçador de promoções no mercado.
the new flesh is tough as nails. red nails versus black nails? Black or White? Back to the Back; from your Head.
Michael Jackson é a nova carne.
A nova carne é uma ilusão sem cor, sem nariz e sem valores familiares, com muita maquiagem. A nova carne não sente o CHEIRO; indício de violação e fomes, na linguagem figurada, um vestígio ou uma aparência.
A NOVA CARNE BEBE CEVA
A CEVA é um processo de caça ou pesca que consiste em lançar, periodicamente, no mesmo lugar, os alimentos preferidos das presas, para depois surpreendê-las nesse mesmo local.
[ainda sobre o céu]
os anjos vêem a nova carne como crianças.
"Als das Kind Kind war, wußte es nicht, daß es Kind war, alles war ihm beseelt, und alle Seelen waren eins."
[Quando a criança era criança, não sabia que era criança, tudo a inspirava, e todas as almas eram uma.] - Wim Wenders, 1987, em "Asas do Desejo".
2007. Passados "Fahrenheit 451", "Asas do Desejo" e "Videodrome", é possível estabelecer uma conexão entre uma sociedade em que os livros são queimados para que sejam evitadas personalidades introvertidas e proclamada a comunicação fútil entre as ovelhas do rebanho de robóticos caçadores de mulheres no trem, e outra sociedade em que o vídeo transforma a transmissão de sexo, violência e tortura em ondas cancerígenas para mentes amorais; a morte do livro como instrumento de silêncio e depressão, a vida paplpitante do vídeo que institui os monólogos de um morto gravados em fitas VHS como a nova vida, ou a nova carne: "Meu pai sabe mais sobre isso do que eu, escute o que ele tem a dizer", diz uma personagem de "Videodrome" estendendo uma pilha de 4 fitas VHS à outra.
[Escapou a Cronemberg que as fitas VHS mofam mas não a previsão precoce do YouTube e dos scraps para as carnes mortas na Orkut.]
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[ainda sobre o céu]
Sobrevoando a sociedade alemã de uma Berlim na qual se falam também o inglês e o francês, anjos revindicam o prazer do "agora" em substituição ao conforto do "eterno" (dizer "ah, não" ao invés de "sim" ou "amém"); cigarros e cafés podem matar mas tornam a vida colorida quando se dá asas à cobiça. O desejo consiste em ambicionar o que não se tem ou goza. Os humanos aspiram a eternidade do vestígio da velha carne enquanto os anjos aspiram descer e feder e conhecer o que é branco, vermelho ou preto.
[kennenlernen]
KENNENLERNEN, em alemão, significa conhecer pela "primeira vez" alguém (ou alguma coisa?), ou seja, ser apresentado. KENNEN é o verbo "saber, poder, conhecer" (tipo o "can" do inglês) e LERNEN (to learn) significa "aprender". Portanto, quando alguém diz "es freut mich, Sie kennenzulernen" (prazer em conhecê-lo) está dizendo que é um prazer estar aprendendo a conhecer aquela pessoa.
Conhecer é ser capaz de formar uma idéia sobre o que se vive ou observa; experimentar, provar, sofrer. Em sentido bíblico, ter relações sexuais.

Montag, Dezember 11, 2006

Der Himmel über Berlin

Penso no céu como um lugar onde são necessários "contatos" para que a entrada seja permitida. Entrada ou passagem?
"O céu sobre Berlim" ou "Asas do Desejo" foi onde tudo começou; o início é o fim de um fio condutor de pensamentos emaranhados que tiveram início no cheiro da grama que vinha da minha boca. O jardim de concreto (versus) a cama; eis a batalha dos aflitos.
É imposível não ser pessismista quando se pensa que vai chover e chove, ou quando se pensa que vai chorar e chora. Estava eu pensando entre uma parede e outra mais duas de cada lado ou, pensando horizontalmente, entre a cama e o jardim de concreto, afinal, toda luta do ser humano é entre a preguiça e as grandes cidades, ou seja, entre o instinto animal voltado ao prazer e a evolução robótica urbana.
Quando tinha 15 anos me perguntaram se eu nunca havia atentado ao fato de que todas as pessoas que eu admirava nos filmes estavam mortas; na ocasião, o filme era "Casablanca" e, de fato, eu nunca havia pensado sobre o assunto.
[Isso me lembrou uma cena de "Asas do Desejo", ou melhor, um parágrafo da legenda: "O tempo cura... Mas... E se for o TEMPO a doença?"]
Hoje é uma daquelas noites em que se sabe que vai chover e os mosquitos te devoram enquanto outros te distraem com barulinhos no ouvido pois os mosquitos, assim como os homens, trabalham em equipe. Enquanto uma parte do grupo te aniquila, a outra canta para te amortecer.
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Deixe sempre um Scrap para os mortos.
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Quintana disse que nunca escreveu nada que não fosse uma confissão; Quintana está morto como Borges, que está morto como atores de "Casablanca". Os filmes são um acessório do meu investimento pessoal e não o contrário. Lamento, mas não usarei o Google para expressar meus sentimentos.
Os grandes artistas estão mortos e os novos acreditam que a teoria e a "História" podem ajudar. Mania acadêmica vomita spaghetti mastigado com cenoura.
[Artista que é bom não tem blog]

Freitag, Dezember 01, 2006

Ghost World

"Ghost World" é como "What the bleep do we know?", só percebemos seu real valor após o decorrer de uns 5 dias, necessários para relevar os clichês decorrentes da proliferação de filmes com apelações da ordem "me assistam, por favor! sou cult e tenho utilidade mundial!". Sim! Ghost World é pior que Nouvelle Vague e tem a grande utilidade de nos mostrar como nossa geração é indecisa, cara-dura e sem-vergonha. Começando pela seleção de elenco que não poupou a escolha de alguém tão semelhante à Christina Rich (musa cool) para convencer o público sem causa. E o que é uma causa? Uma causa é a origem de toda e qualquer situação, mas também pode ser a idéia defendida por um grupo de pessoas. A causa defendida pelo filme é: tenha orgulho de ser um fracasso, pois ainda assim você pode usar meias arrastão! Sempre haverá um ônibus esperando por você, ir embora está sempre dentro de cogitação, mas você pode simplesmente se contentar com casinhas de um quarto e tábuas de passar embutidas. A morena de óculos que parece a Christina Rich está para Holden Caufield assim como o Homem de Areia está para Gregor Samsa. No livro está o monstro, no filme, a aparência.
OBSESSÃO PELO TERMO COOL É RECALQUE SUBURBANO!
Mataram hoje mais um, esfaqueado por um invasor na frente dos filhos de 6 e 8 anos. Rolou na escada em luta. Luto? Qual a utilidade? Mesas de jantar com cadeiras? Cadeiras de balanço em extinção. O importante agora é arranjar um bom emprego em tempos de aquecimento global. O caos virá lento e cruel, e você? Eu não quero ser garçonete, além de lidar com gentes ainda caminham de um lado para o outro. Ai, que calor!
Não sei distinguir um tédio de um anúncio de vômito!
Sou Charlie Brown esperando um cartão de dia dos namorados. Não, não sou. Sou Sailormoon, voando e apaixonada. SOU ridícula, romântica, tímida. Sou puro ar, como numa canção da Nely Furtado; sou BREGA! Mas Fernando Pessoa não deixa de ser ÓBVIO, com suas observações a respeito do campo e da cidade ("preciso da cidade para me sentir bem no campo e vice-versa" em palavras bonitas) e sua primorosa opinião sobre como as pesssoas precisam ser sensíveis para se comoverem com sutilidades como um dia cinza.

Mittwoch, November 29, 2006

Recomendo que você conheça seu vizinho.

Meu vizinho, um cara clássico. Lia livros em alemão encapados com folhas de revista no ônibus e nos dias de chuva saía de casa com uma touquinha cirúrgica cobrindo seus cabelos brancos e volumosos para os lados, numa mistura de Bozo com Einstein. Era formado em Física e Medicina pela UFRGS e auxiliava nas pesquisas do Departamento de Física Nuclear da Universidade. Descobri isso há dois dias pela Zero Hora, e agora penso como o mundo é bizarro, mais bizarro do que sempre, tantos anos ali ao lado, tantas noites sozinha e ele ao lado, também. Solidão compartilhada é tão bonita mas, tá, talvez não seja tudo isso, só estou sensibilizada. Mas ele era tão bonito no seu estilo cabeção discreto que só falava com os vizinhos para presenteá-los com goiabas e juntar as bolas que as crianças chutavam para o seu pátio.
Mataram o meu vizinho, 3 dias e não consigo parar de pensar. Vejo as poças de sangue me debruçando no muro, as crianças também viram e perguntam "será que ele fez mal pra alguém?". Asfixiaram o velhinho com uma sacola plástica e deram pauladas em seu pescoço para depois arrastar o corpo até o pátio, onde o cobriram com algumas folhas secas. Eu estava na sala tomando cervejas e assistindo "Factotum", não ouvi nada, nem o cachorro.
Eu sei que informações sobre crimes como esse não trazem nada de útil para os leitores, apenas fofoca e especulação. Quantos relatos também já não li desse tipo "a gente sempre acha que não é com a gente até acontecer por perto" e continuei achando que não era comigo. A gente sempre vai achar que não é, até que o jardim da nossa própria casa fica infectado por uma áurea estranha.
A violência urbana já um clichê, que merda.
Eu sei quem matou mas não vou escrever aqui, acho, inclusive, ainda bem, que não se trata de violência urbana e sim de violação espiritual do caráter. Algum escritor famoso disse que admirava 3 tipos de pessoa: o assassino, o padre e a puta. Não lembro a justificativa da opinião mas lembro que achava o auge do pensamento intelectual aprimorado. Agora penso que o assassino está fora do círculo. Não o admiro mais. Não é como nos filmes, sei que descobri tarde, mas nunca tinha conhecido um ao vivo. Talvez minha idéia de assassino fosse aquela de um destruidor destemido e amoral, e é impossível negar que existe sim uma áurea sedutora ao redor dos crimes, principalmente os que envolvem rituais satânicos. São crimes sem utilidade pública mas no entanto são os mais chocantes. Qual o motivo de nos interessarmos por conflitos que dizemm respeito somente aos envolvidos? Há mais ou menos uma semana atrás um casal se suicidou num motel e, curiosamente, a menina de 14 anos que supostamente se matou por causa da opinião dos pais a respeito do seu namoro com o músico de 30 anos, morava na rua atrás da minha. Ambos os crimes são daquele único tipo que podemos dizer "o raio não vai cair no mesmo lugar", pois não é como um crime em uma rua específica, que depois podemos evitar de passar ou morar, é um crime com PESSOAS específicas, e que já morreram. Mesmo sabendo da equivalência entre estes crimes e fofocas da Contigo, já acessei a página policial da Zero Hora por diversas vezes na mesma semana. E não consigo parar de me sentir péssima, por isso peço licença para utilizar este espaço público como terapia, não que os outros textos também não sejam mas, hoje, pela primeria vez, senti vontade de falar assim, claramente, sobre fatos reais e apelativos. Me desculpem, sei que isso é péssimo, mas eu precisava compartilhar, dizem que terapia em grupo é muito eficaz, imagina então terapia em rede mundial.

Sonntag, November 26, 2006

fatos fantasmas

"The leaders of men born out of your frustration."
(Joy Divison, 'leaders of men')

Ghost World+++ No estilo Tenembauns, o filme traz figurino cool e trilha sonora soando como lado B da MTV. Ainda assim vale a pena pela fina ironia de cenas como a de uma menina trabalhadora do interior que recém adquiriu sua casa própria mostrando à outra menina não trabalhadora do interior uma tábua de passar que pula de dentro do guarda-roupa e despula de volta; "Não é sensacional?" diz a loirinha magricela de peitos grandes e casaco cor de rosa à outra menina com quilos a mais de botinas e meia arrastão pretas.

Factotum++ No estilo adaptações que não dão certo o filme só prova que Chinaski, na tela ou no papel, não passa de uma soma interminável de empregos bomba, mulheres que conhece no bar e acaba dividindo teto e furor sexual de meia-idade, violências de fim de noite e visitas à corridas de cavalos.

Ainda assim, Bukowski é herói de uma geração, como Seymour de Ghost World era para a menina de botinas e meia arrastão pretas. Seymour era um colecionador de discos de Blues fracassado e Chinaski foi de empregado de fábrica de enlatados a açougueiro, ainda assim ambos tinham grana para beber e viver em casas cools e aconchegantes.
Ser um fracasso em cidades americanas parece sedutor.

Samstag, November 25, 2006

Pais e Filhos (saravá Renato Russo!)

Dando uma olhada ontem numa revista "Pais e Filhos" de 70 e poucos descobri que os filhos caçulas (segundo a concepação da época) são menos bondosos que os mais velhos, pois esses acompanham a gestação da mãe e podem compartilhar o sentimento de "cuidado" que a mãe tem com o irmão mais novo, segundo a revista, isso asseguraria a "bondade" da criança. Outra coisa interessante era a colcha Paxi Concilix, que tinha ondas tão bonitas no bordado que você sentiria vontade dormir com ela, mesmo ela não sendo feita para dormir (sim, a propaganda dizia bem isso), mas o anúncio mais hilário era o "Prove que você confia na sua mulher, abra uma conta conjunta", e logo depois eram indicadas as vantagens da conta conjunta, como por exemplo o fato de que depois dela "sua esposa poderá pagar ela mesmo, direto o banco, contas de água e telefone".
As revistas sobre relacionamentos familiares pareciam fazer mais sucesso nesta época, não sei qual o motivo, mas me parece que havia uma tendência de busca por doutrinas e ensinamentos; "como passar uma camisa de homem" (não decorei, eram mais de 5 passos), "como cozinhar sem fazer sujeira" (pegue um daqueles sacos de supermercado e coloque dentro de uma panela, depois descasque os alimentos e coloque a cascas na panela ensacada, depois é só colocar o saco no lixo, sem maiores sujeiras). Havia títulos de reportagem sobre adolescentes precoces do tipo "elas estão aprendendo tudo, e agora?". Enfim, uma figura do que foi a consolidação da liberdade sexual junto com dicas sobre ferimentos com cacos de vidro e resenha do "novo disco dos Mutantes", diversão pura. A melhor fotografia era a de uma noiva vestida a caráter em cima de uma bicicleta no meio de uma estrada, a mina tinha uma cara total de desespero moldada por cabelos anos 70 e a reportagem era sobre as desilusões do casamento, com o subtítulo "relacionamentos que começam sob uma base falsa normalmente acabam sem explicação".

Donnerstag, November 23, 2006

reflexogênicas talking heads

Nasceram com as televisões ligadas e hoje lamentam com nostalgia o tempo que deixaram de agir por serem jovens num curto espaço de tempo utilizado para beber conselhos de bens sucedidos passageiros pedindo carona no futuro. Brotaram de suas barrigas flores nascentes da neve e do vento e de todas as palavras bonitas que as pessoas felizes conseguem dizer e de todas as fotografias delicadas de uma mente sensível assistindo ao Sílvio Santos. Bailando por um sonho me perdi na idéia do que tu poderias ser. Porta da esperança? Não existe em casos de distância intelectual que provoca saudades e ascos por não termos aproveitado bem o tempo de ser sincero e ao invés disso o que fizemos? Poeminhas de nostalgia e esperança; o reflexo pode ser uma cópia ou o pai do retorno ao cerne dos pensamento com fins de análise; a reflexão.
reflito, reflito, reflito kkkkkkkkkkkkkkkk pane.
Como pode o amor entre imagens virtuais? Como pode beber enquanto a fidelidade espera? Como pode aceitar enquanto o corpo nega e a mente consente? Como pode tantas perguntas clichês juntas?
Como posso continuar com isso e frequentar supermercados durante 15 minutos antes do fechamento? Como pode fechar se quer abrir? Vai abrir, já foi, voou. Não faz sentido, não faz sentido! Não contribui!
DESLIGA
FECHA
AMASSSA
se perdeu em delírios de mercosul;
Se eu pudesse me guardaria ao mais ébrio, tenro e doce pitoresco atrativo das imagens que faço de mim mesma; e me assustaria e me diria: Como posso, como posso, tão tarde ter percebido que tudo morrerá no google?

Dienstag, November 21, 2006

mickey e espelhos

"He made up the person he wanted to be and changed into a new personality. Even the greatest stars change themselves in the looking glass."
(Kraftwerk, "The Hall Of Mirrors")
..
THRU THE LOOKING GLASS
.
é nome de filme de Ingmar Bergman ("Através de um espelho", 1961), nome da continuação de Alice no País das Maravilhas ("Alice através do espelho", de Lewis Caroll;escritor e matemático que deu ao mundo a obra mais psicodélica da história fazendo de suas sentenças equações matemáticas e vice-versa) e nome relacionado também a um dos melhores epsódios de Mickey Mouse, inspirado, justamente, na obra de Caroll.
Atravessar um espelho é enxergar além da comunicação possível consigo mesmo ou transcender os limites do egocentrismo, como é o caso do protagonista do filme de Bergman (um escritor contemplando através da família seu fracasso como profissional e pai, num momento de insanidade da filha) que dá início à sua trilogia do silêncio("Através de um espelho", "Luz do Inverno" e "O Silêncio"), algo bem próximo do que fez Antonioni em sua trilogia da incomunicabilidade e pode ser classificado como tendência do "cinema de autor". A diferença entre Bergman e Antonioni neste quesito está, por exemplo, no talento do primeiro em suas filmagens de "Através de um espelho" durante o "lusco-fusco", iluminação natural que ocorre na transição do período diurno em direção à noite e que enfatiza a presença do termo "espelho" no título, pois tanto a luz quando a projeção são reflexos. A habilidade de Antonioni se concentra mais nos enquadramentos e nos jogos geométricos (interessante como as figuras matemáticas de alguma forma sempre se relacionam com a solidão contemplativa).
No desenho de Walt Disney fica bastante caracterizada a comtemporaniedade entre o autor e outros mestres como Dalí e Buñuel; a metáfora da contemplação está no surrealismo (objetos moralmente incorretos como cinzeiros e baralhos de carta ganham vida, dançam e se revoltam contra Mickey estabelecendo uma relação semelhante com a do homem/espelho). Mickey Mouse é com certeza o rei da animação, por este e outros epsódios em que encarna o problema existencial através da incorporação de personagens, como em "O Pequeno Alfaiate Valente" de 1938, baseado na obra dos irmãos Grimm. Mickey não é um personagem fechado em si mesmo e sim um ratinho covarde que precisa de personalidades alheias para encarar a si mesmo, e é o espelho mais animado do mundo, até hoje.

Sonntag, November 19, 2006

gebunden sein

estar preso; confinado às idéias?
A presunção é uma idéia de grandeza da condição pessoal. A índole é imbatível para as idéias/palavras alheias porém deduzível ao coração atento.
Nas mesas de cinzeiro e nas mesas dos ajoelhados-com-velas-das-igrejas grandes mágoas esmagadas revelam o caráter, esse conjunto de idéias confusas que temos de nós mesmos e no qual alguns carregam a ilusão de altruísmo, que na verdade é um excesso egocêntrico que não se suporta e explode em exageros que vem da necessidade de sentirem-se grandiosos; o altruísta é o a-favor-do-herói. O anti-herói ri de si mesmo enquanto o altruísta encarna o superboy que não cresceu para perceber a insuficiência dos grandes poderes mágicos perante às leis cruéis dos sentimentos mortais; o altruísta é um confuso.
.
A confusão é uma massa indistinta de incapacidades e buracos estomacais; o estômago é o fundo, o buraco maior que se enche pelas culpas que entram pela boca. Convites negados são mesas de comida vazias. Nas mesas da igreja as senhoras enjoiadas com velas e rendas e promessas, obrigados. Na mesa de cinzeiros grandes mágoas esmagadas; e o coração entregue no fundo do copo, o homem bagaceiro no orelhão toma Belinha;

que desgraça maior do que a minha!
como sofre um homem bom!

---------------------------------------- ; sem palavras, silêncio, com elas: GRITOS> voz humana alta, aguda que revela não suportar, não endurecer, não germinar; grandes riscos dos que contradizem mas não explodem em gastrites nervosas. O grito é um clamor, um protesto e não uma profanação. O grito é o respeito e não a pena. E por isso morram mais ritalinas e mais rivotris-guys, que se alagam na gordura que vem do cansaço e da retenção de líquidos e não da cerveja-no-bar-com-amigos, ou em ambos; e que se quiserem, continuem, MAS QUE GRITEM para não sufocar o tempo que corre em silêncio, NO fun e NO alarmes de celular. Que continuem fingindo nos telefones e eméssenes; sabotando a confiança e a informação da vivência profana com mãozinhas desdedadas de carne e sabor caseiro, MAS QUE GRITEM! Que chorem, que berrem e que durmam, como bebês ruivos e homer simpson.

Mittwoch, November 15, 2006

Tajna

[dessangrar]:1. tirar o sangue 2. fig. debilitar, enfraquecer privando dos meios.
esvair-se, esgotar-se em sangue; perder o que é necessário para o seu sustento.

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O velho estava lá, num dos bancos da frente virado para o cobrador, como não enjoam, meu deus, como não enjoam quando parados e ao mesmo tempo de costas para o fluxo. O vermelho da rosa murcha no colo do velho, os olhos tristes. As ambulâncias correndo ao lado, dos olhos dele. O calor, o sangue; da cor da rosa; que ganhou a bonitona de todos os sorrisos para sua teta; do velho, assim que se encontraram, do outro lado da roleta. Desceram, atravessaram a rua. Tajna, a moça da recepção, viu e, atônita, apertou o botão. Subiu o portão eletrônico e eles entraram, o velho e a dona; da rosa. A pé é foda. Tajna alcançou a maquininha de débito; "paga na entrada". A tetuda com o cartão largou a rosa e apertou, sete dígitos; o dedo contra a maquininha; os olhos, do velho, contra o tempo. Os olhos, de Tajna, contra todos. Ganharam uma chave, a dona e o velho, enquanto Tajna disse, não dizendo, pra passar o próximo, e mais um parou tímido, apertando os dedos contra maquininha; ainda bem que agora só restam os apartamentos luxo sem banheira e secador de cabelo. O velho e a dona da flor, não sei. Ou os dois ou o 2? O meio é uma ilusão, um sempre precisa perder o que é necessário, para o sustento do outro. Tajna largou a maquininha no balcão, pegou a escova de cabelo, penteou os de baixo, atordoada? Quarto 115, chave reserva; correu, achou, a rosa no chão, do lado de fora. Gritou "serviço de quarto!" e girou a maçaneta, na outra mão, a escova; entrou; o velho e a bonitona na cama, ele por baixo e ela por cima; Tajna enfureceu a face e cravou a escova de cabelo no orifício traseiro da bonitona de meia idade. E então, só então, um velho reconhece sua filha? Talvez se ela usasse decotes, teria a visto antes.
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"O Cupim" filme de Carlos Manga de 1959 produzido pela lendária Atlântida Cinematográfica, mostra bem como corrói divertido este sentimento chamado ciúmes. A melhor cena da comédia é quando o mordomo defende a vitalidade que o ciúmes (cupim do amor) empresta à relação, ao que a patroa retruca "Como tu podes pensar isto? Não vê como eu e Tristão levamos uma vida tão boa sem ciúmes? Não vê como nos amamos, como nos beijamos e nos abraçamos quando ele retorna do trabalho?", e o mordomo responde "Vejo, madame, vejo. Vejo mas não me convenço".

Donnerstag, November 09, 2006

Lunaris

Da infância;
os jardins, os vestidos brancos leves roçando na grama e observados pelas bermudas xadrezes e bocas babando melado de pirulito; a bolsa vermelha da Mônica sendo roubada por uma precoce vaidosa de cachos enlaçados; os meus cabelos, roçando no presunto disposto na mesa de aniversário para a mão alcançar o negrinho. A foto: em escolas de luxo, crianças sempre blasé e lustrosas sem idéia da diferença entre carros pessoais e comboios urbanos.
Eu recebia cartas de amor e ao voltar da escola no carro de meu avô mostrava timidamente o envelope enfeitado com marcas de batom. Lesbianismo infantil? Não, era um "ele" o remetente, mas ditava as cartas para a governanta, não muito culta, mas que melhor sabia se expressar com palavras do que um garoto e ainda beijava os envelopes. Eu, de qualquer forma, não ligava; só corria em volta da escola tentando recuperar a bolsa vermelha da boneca, volta e meia vinha um, chamado João, pegava na minha mão e me levava para deitar na grama e cheirar a margarida olhando as nuvens por detrás dos galhos das árvores; todos os ambientes parecem tão grandes quando somos crianças; depois, quando lá voltamos, são sitiozinhos irrisórios.
Eu então deitava ao lado de João, enquanto os outros corriam, brincavam de ser polícia, fugitivo ou simplesmente dançarinos. "Ele" pedia à professora que contasse histórias de terror. João talvez soubesse que "ele" me amava, mas estava mais interesado em pegar na minha mão e sorrir bafos de Youplat, enquanto o outro me abordava na hora da saída e me entregava as benditas cartas com marcas de batom, as quais eu recolhia da mão de sua babá e o chamava para um local mais afastado do portão de saída; mostrava o buraco feito para abrigar o ar-condicionado, o qual ele observava atentamente e, só então, eu amassava a carta e enfiava entre duas grades que protegiam o buraco. Um dia ele chorou, e eu sorri. Na verdade, eu sorria sempre; e talvez tenham sido os primeiros sorrisos, assim, de dentro da vaidade mais arraigada.
É tarde, é tarde, é tarde já dizia o coelhinho.
Me convenço de que o ajudante da memória é o sonho; duas crianças vestidas com mantos vermelhos e coroas douradas correndo por uma floresta monocromaticamente verde em direção a um telefone antigo e redondo, também vermelho, sobre um banco de madeira em meio ao capim deserto. Ela atende, e uma voz do outro lado diz que o menino rei a fitando é um apaixonado. Ela sorri, como uma rainha.

Mittwoch, November 08, 2006

Fotografia é amor, ilustração é sexo.

O taxativo é irretorquível.
O irretorquível é aquele para o qual não há resposta. As ilustrações são taxativas, seguem a ordem do prazer instântaneo e de apelação ao orgulho esteta. Para o prazer nao há resposta. Foda-se. (ui)
.
Die Elemente des Bildes vertreten im Bild die Gegenstände.
[os elementos da imagem substituem, na imagem, os objetos]
O objeto é tudo que se apresenta ao espírito, que se oferece ao pensamento; gramaticalmente, é o complemento verbal que designa o ser ou a coisa que sofre a ação expressa pelo verbo; ou seja, a ficção é uma expressão do sofrimento; um objeto imaginário existente graças à maldade intrínseca ao coração humano, aquela que determina o que vai acontecer ou não com as impressões apresentadas ao espírito. Não há como substituir a maldade, apenas os objetos.

Das logische Bild der tatsachen ist der Gedanke.
[a imagem lógica dos fatos é o pensamento]
O verbo é o pensamento? o objeto sofre a ação do pensamento e o pensamento precisa da forma para que seja devidamente estruturado e tenha uma imagem lógica (apresentação).

Die Sprache verkleidet den Gedanken
[a língua transfigura o pensamento]
A língua dá forma ao pensamento, substitui objetos por elementos de forma que os mesmos acalentem todo e qualquer objeto exatamente por serem o que os matemáticos chamam "cada uma das unidades do conjunto"; pau pra toda a obra.

Der Satz ist ein Bild der Wirklichkeit
[a frase é uma imagem da realidade]
Cada ciência representa sua realidade através de elementos que mudam de significado de acordo com a transfiguração da ordem de idéias a serem estudadas. Os químicos distribuem os elementos, entidade fundamental e comum de todas as variedades de uma mesma substância simples, em linhas e colunas, de forma a demonstrar a analogia entre os mesmos.

Der Satz zeigt die logische Form der Wirklichkeit
[a frase indica a forma lógica da realidade]
A analogia sempre indica solidariedade consigo mesmo e com o desejo de manter-se à sombra das revelações encerradas pela condução lógica das palavras.
==========> todas as em alemão são de Ludwig Wittgesntein, em homenagem ao qual, aparentemente, Thomas Bernhard escreveu o seu "O sobrinho de Wittgenstein"; mesmo Thomas Bernhard que escreveu "A força do Hábito", pitoresca obra sobre o triunfo da persistência contra a intuição.

Montag, November 06, 2006

Aquele Edgar Allan Poe era mesmo um sádico!

Gritos de dor e de prazer são iguais.
Eu aprendi isso ouvindo Smiths.
["Last night I dreamt that somebody loved me"]
A música começa com uns gritos, sempre imaginei pessoas sendo torturadas, depois pensei em trabalhadores braçais na Torre de Babel e, por fim, pensei em pessoas assistindo a um show de rock; gritando, felizes. Também pensei em uma super suruba. Minhas impressões não possuem nenhuma base teórica ou científica; mas acaba-se percebendo que dá tudo no mesmo: ciência, teoria, prazer, dor, shows de rock. Filmes, músicas, livros. No fim acho que só mesmo Caio Fernando Abreu importa. E que seja doce, e que nasçam mais ieves e joaquins. E que morram menos velhos, enquanto eu estou aqui, irritada com o barulho do idoso cortando a unha, até pereceber que são só os pingos do chuveiro, aqueles que sempre ficam .. . .. . . .. . . .
Toda a cultura é pingada, e sei que os "cultos" detestam generalizações e termos do tipo "sentido", "significado" ou "cultura", e sei que esses são os caras que sacam. Ainda assim não são os que vem de dentro; os que deitariam no cemitério pra olhar margaridas.
Nós somos uma generalização; nossa mente associa tudo com insignificâncias pessoais transformadas em grandes sofrimentos exatamente pela sua generalização; cada espécie possui não sei quantos mil anos de memória coletiva para poder evoluir (eu aprendi isso assistindo "Waking Life", mas a fonte tem o mesmo valor de uma mesa de bar), ou seja, evoluímos pelo inconsciente coletivo. Eu deveria ser mais específica já sabendo que vou ser descoberta depois, como mais uma macaquinha simpática que pela proliferação do culto ao automatismo selvagem evoluiu até o ponto possível dentro de um píres pingado?
Snoopy sabia das coisas e por isso não aprendeu a falar a língua dos homens. Não falava, mas escrevia: longas cartas para as namoradas, primos e amigos. Quem escreve precisa calar; literatura é pra ler na cama. Discordo, afinal preciso desligar a torneira, mas a torneira já foi desligada; são só os pingos.
Não é bom pingar nos outros mas por fim acontecerá o grande evento da velha frustração: os casais serão magos gnômicos e os solteiros, Lucys fragilizadas.
Não, eu não queria dizer nada com isso; são só os pingos. Da cabeça? Sangra? Sangra e quem sabe também não arde e quem sabe também não corrói e quem sabe também não estoura? Poucas coisas podem acontecer a uma cabeça, assim, por escrever, pelo que se tem escrito. A crise nos leva ao Charlie Brown; citações são uma forma de fugir de si mesmo e quem não sabe. Charlie Brown é coisa de gente infantil? E quem não sabe?
QUE AQUELE EDGAR ALLAN POE ERA MESMO UM SÁDICO?
Os mais velhos, esses sempre sabem das coisas, mesmo quando cortam as unhas ou não cortam a corda da pipa que suspende Charlie Brown de cabeça pra baixo em uma árvore. Você precisa deles para que te digam que, se você prefere o pôr do sol ao nascer do sol, está perdido; mesmo que com livros, filmes, dor, prazer e shows de rock.
[desculpem, mas esse final exigia um clima "teen"]

Freitag, November 03, 2006

Midnight Cowboy

Joe Buck saiu do Texas. Do you love me, Joe? Joe Buck foi à Nova York. You're the only one, Joe. Joe Buck conhece Dustin Hoffman, Joe Buck carrega uma mala com estampa de vaquinhas. You're so cult, Joe.
MIDNITE ao invés de MIDNIGHT, they're so cult.
["midnight cowboy", 1969.]
é muito mais um filme sobre dois rapazes (nem tão rapazes) decadentes (Dustin Hoffman/John Voight) rumo à morte do que um retrato da sociedade andarilha nova-iorquina. Tudo no filme remete à morte, desde as primeiras sequências (Joe matando/ressucitando as recordações do Texas - mesclando imagens da infância MORTA pela avó sedutora e flash-backs de relações sexuais) até a visita dos dois caubóis ao túmulo do pai do personagem de Dustin Hoffman, sem contar, é claro, aquilo que eu não vou contar(mas silêncio também é morte).
Um personagem começa onde o outro acaba (morte); a opulência estética e a ingenuidade de Joe Buck terminam onde começa a estética mutilada e a esperteza de Ratso(morte); o texas termina onde começa a metrópole lotada de sul-americanos (morte). A própria viagem é uma morte; um ambiente sempre substitui o outro não podendo o novo coexistir com as experiências do velho no mesmo tempo e espaço. Cada ambiente, para os michês e para os ladrões, é uma morte; precisa ser experimentado e encerrado. Um ambiente é um instante, e todo instante tem o falso status de único, ainda mais quando se chamam New York, Texas ou Califórnia; de qualquer forma, em qualquer lugar, o sonho americano dos zumbis nunca se concretizará, o que resta é transformá-lo em um bom lugar para morrer.

Dienstag, Oktober 31, 2006

cagando no blog

Corre, corre! Pega o ladrão; selvagem; medícore, pegou o ladrão. Morre, morre. Pesado; nojento; morreu o tesão. (rá-rá-rá! transgressora "uau"; que sucesso faria no coquetel de poetas recrutando gatas quentes.)
Ai, ai! Meias de seda, por favor! Qualquer um que me adore!(a admiração pode indicar espanto ou respeito; em mundos virtuais quase sempre navegam possibilidades só de espanto mendigando respeito)
Banho de papelzinho repicado em bêbados da platéia? Pode funcionar.
O banho é uma tarefa prazerosa, despir-se e desnudo cavocar o ralo em busca de pentelhos restantes inconvenientes para os que apreciam a boa limpeza do buraco. Buraco negro, ruiva, dourado; buracas amarelas no mato. Mato é pra quem não tem prisão de ventre, diarréia é coisa de intelectual. Merda boa é o blog, que deve ser admirado pela simplicidade e breviedade de idéias...................quando acabam-se as idéias, nasce a ficção. medíocre. morreu selvagem. (ui! outro coquetel pra mim!)
Tânia, cad~~~~~~~~~~~e voc~~~~~~~~~~~~e?
Cagando no milharal, amiga.
do mundo! menos eu! do trabalho braçal! todos os outros! do cinema! a cãmera! dos livros! sal com açúcar! do meta-linguado! Gunter!
sim! hoje em dia qualquer um escreve! sim! somos todos alvos da mediocridade que corrói o ladrão que corrói o tesão que só não corrói o sucesso se tiver buraco compartilhado.

Sonntag, Oktober 29, 2006

Top top

Era gorda e sua senha era sempre GORILA. Foi votar indignada com a obrigatoriedade do voto e com o sucesso alheio. Políticos, madames de escarpim votando ao lado; da direita, da esquerda, pouco importa. Importa que além de gorda e sem sucesso não podia escolher ficar em casa fedendo em um dia de 40 graus à sombra em Puticaringa. Puticaringa é uma capital de dondocas limitadas por bairros seguros de acordo com a marca de suas bolsas. Bolsa de Valor? Não sabem, e nem a gorda; mas foram todas votar e se viram, e baixaram e levantaram os olhos; os das madames, por trás de lentes Armani envoltas por aros largura da palma da mão. A mão da gorda, suava; deixou pingos na urna eletrônica. As dondocas, "ui", reclamaram pra mesária entertida com com sua caixa de bis presente do velho de 80 anos que ainda vai votar. "Vem porque quer"; pensou a gorda, e nem ouviu as dondocas reclamando da sua gota de suor na urna, já ia quase saindo da seção quando alguém gritou "só podia ser gorda mesmo"; e pra isso serviu ser obrigada a votar, pra ser lembrada do seu excesso de peso. Não acompanhou a contagem de votos, não torceu por ninguém, só ficou lá, com suas santas, sua televisão na Pampa e seus ventiladores, lembrando do quanto era gorda e sem óculos Armani. A mesária ficou até o último minuto esperando por alguém que não foi votar; esse alguém vai depois ao TRE e paga uma taxa de alguns reais e pronto.
VOTO NULO É SABOTAGEM
"Sabotage" é nome de música dos Beastie Boys, banda que liberou os downloads de suas músicas na internet, apoiando a batalha contra o copyright.
"O Sabotador" é nome de um filme de Hitchcock que fala sobre a luta das massas contra a elite. A elite é uma organização de sabotadores, a massa é representada pelo cidadão pobre e do bem que ganha a culpa do crime. O representante maior dos sabotadores nutre um grande amor pela neta de mais ou menos 2 anos, o que denota sua queda para a pureza de coração, no entanto sua paixão pelo poder o faz desistir do conforto de ser apenas mais um cidadão comum que segue as regras do formigueiro. As formigas possuem linguagem? Os sabotadores sim, e também jóias e companheiros fiéis sempre dispostos a matar. O mocinho do filme (perseguido injustamente) conta apenas com a ajuda de um cego, uma modelo de anúncios funerais, atores de circo e um caminhoneiro. Quem vence? Cuidado: a morte não anuncia vitórias.

Donnerstag, Oktober 26, 2006

Selbstsucht

Em alemão, egoísmo. "Selbst"; próprio. "Sucht"; vício. O vício de si próprio. Holden Caufield é um egoísta; um egoísta rejeitado pela infantilidade, a sua e a do público leitor. "O apanhador no campo de centeio" é o melhor livro infanto-juvenil já escrito; mas apenas com valor de rito de passagem; valor literário de iniciação: comunhão primária. O erro está em comparar Salinger com autores experimentados nos assuntos adultos, enigmáticos, fantásticos e tantos outros áticos; há de ver se a análise está contextualizada; o apanhador não funciona fora de campo delimitado. O apanhador precisa de limite geográfico, das criancinhas e do desespero; o apanhador precisa da inocência desvencilhada da capacidade de encorajar-se. Salinger não é nem quer ser Philip Roth e sua temática sexual evoluída aos critérios da classe pensante e acadêmica, Salinger quer falar aos ouvidos desprevinidos, verdes, cansados da beleza compartilhada. Salinger não é Pessoa de palavras requintadas, não é Welsh de vícios mundanos existenciais. Salinger é amigo imaginário, maridos suicidas, relações incestuosas, solidões iniciais de um futuro consumidor de Prozac. Holden é o garoto tarado da praia dos contos de Sérgio Faraco;é um adolescente BUSCANDO; nos bares chiques com piano, com putas em hotéis de classe C, nos lagos congelados, na negação do romantismo inerente à sua geração. Holden é ídolo dos 12 anos; é o retrato do surgimento do egoísmo na vida humana; a passagem da extrema necessidade dos pais à necessidade de individualismo e negação da dependência. A expulsão do colégio é sua expulsão da sociedade e dele mesmo, da idéia dele mesmo que tinha até então. Como "Os dois perdidos em uma noite Suja" de Plínio Marcos, Holden é um perdido nos confins do luxo em calçadas iluminadas e lanchonetes 24 horas; de taxistas inteligentes e prostitutas meigas. A fartura é a premissa e o contraste do egoísmo (premissa como causa-objetivo e contraste em relação à abundância do coração altruísta); é lustral, como a água sagrada dos antigos, batiza. O egoísta não abre mão de suas regalias, é um comodista; o egoísta aventureiro, aquele que não tem meio certo de vida, que gosta de ações temerárias e surpresas, este é o apanha-moscas. O verdadeiro encontro com o egoísmo só ocorre após a porta bater fechando os sonhos pueris mas deixando o eco do giro da maçaneta. A adolescência é a maçaneta, e maçanetas precisam de buracos inferiores, receptores daquilo que abre a intimidade que não se desencerra apenas com a torção da parte superior.

Mittwoch, Oktober 25, 2006

Ledinha danger

Hoje um príncipe presenteou um piloto de corrida aposentado com uma ilha de 7 milhões de dólares, uma fábrica de fraldas pegou fogo e o Dadaísmo completou 90 anos.
"Dada" vem do francês e significa "cavalinho de pau" ou "cavalinho de brinquedo"; ambas traduções concordam com o movimento, que foi longe com patas de cavalo conduzindo sua arte lúdica ou seu pau impiedoso, no entanto, acredita-se que o nome foi escolhido aleatoriamente em um dicionário francês-alemão; o dadaísmo pode se referir à fala sem sentido das crianças ou à uma resposta à Segunda Guerra; a loucura contra a loucura. Já que todo resto da filosofia e da literatura não conseguiu evitar tamanha insensatez o objetivo do dadaísmo era buscar as raízes da demência burguesa.
[Exemplo: traçar um objetivo para um movimento auto-rotulado de "non-sense" é puro dadaísmo; e burguês. e pós-moderno. Pergunta: qual expressão é mais brega: pós-moderno ou arte?]
1)......................
2).......................
A primeira significa..............e a segunda é a razão da primeira e significa.......................
1)Das Leben ist kurz, die Kunst ist lange.
2)Der Mensch lebt nicht vom Brot Allein.
A primeira significa "a vida é curta, a arte é longa" e a segunda é a razão da primeira, significa "o homem não vive só de pão".
.
Talvez o dadaísmo pós-moderno(ó!) esteja nos blogs, fotologs e afins; total liberação de egocentrismos anti-acadêmicos (nem sempre) e até mesmo um pouco inconscientes, já que podemos associá-los a um tipo de vício, um automatismo, uma falta de critérios. Muitos acusaram o dadaísmo de não acrescentar nada, mas era isso mesmo, e influenciou todo o resto; provando que o "nada" também pode ser um elogio. A puta é uma profissional do sexo com academia de ginástica (nem sempre), nós somos profissionais do amadorismo com câmeras digitais e internet a cabo; que proporciona informações muito úteis como as de incêndios em fábricas de fraldas. Dessa vez as chamas se espalharam rapidamente e a dificuldade em controlar o fogo foi devida ao material usado na confecção dos utensílios (pós-modernos?), a celulose; pasta ou polpa utilizada na produção de papel que possui alto nível de combustão. Leda is dangerous but so are the nappies.

Sonntag, Oktober 22, 2006

historinhas

Branca de Neve
O conto dos irmãos Grimm que fala sobre as relações de uma amiga dos animais com os homens e as mulheres acabou virando o primeiro longa-metragem e grande sucesso de Walt Disney. Os homens são 8, a mulher uma só. Os anões, cada um representando uma faceta da identidade masculina (muito mais diversificada e sincera com seus sentimentos do que a feminina, já que cada anão assume publicamente seu maior defeito ou qualidade) mas que por mais que sejam 7, não conseguem livrar a heroína de uma única mulher: a terrível rainha representando uma única faceta da identidade feminina; a inveja, extremamente ligada ao "disfarce" (bruxa) e ao "reflexo" (espelho). Moral da história: nem 7 homens e uma floresta inteira conseguem livrar uma mulher da inveja de outra.
O reflexo pode ser uma reprodução (imitação) ou uma resposta motora inconsciente provocada por uma estimulação sensorial; assim como a inveja muitas vezes é um sentimento involuntário causado pela sensação de inferioridade. A inferioridade está ligada ao sentimento de culpa que está ligado à maçã de Adão de Eva que está ligada ao sono de morte de Branca de Neve.
"Ela era tão bonita em seu sono de morte que os anões a colocaram em uma esquife de vidro"; e depois veio o oitavo homem e a levou embora; era alto e bonito e apareceu antes disso apenas uma vez no início da história admirando Branca de Neve cantando com os pássaros, pois a beleza feminina só se completa na sua relação pueril com a natureza. E os anões? Ficaram contentes quando a heroína acordou de sua maçã de Rivotril.
Nossa heroína já começa com nome de defunto; pois pra que mais serve um nome que ressalta a palidez da morte? Mas é branca de "neve" justamente por a neve ser um fenômeno relativo às intempéries, às mudanças. Assim como a neve só acontece no inverno, uma vez por ano, a morte da heroína também é passageira; geladinho temporário cessado com a aparição de um deus louro e de riqueza abundante. O dinheiro desperta e está na mão de necrófilos.
[a riqueza abundante fica no final do arco-íris]
Mágico de OZ
O Mágico de Oz, representação do Deus que tudo pode e no final não passa de um impostor, acabou virando uma super produção que veio à Porto Alegre patrocinada por um supermercado que traz como slogan "o barato é comprar bem".
Dorothy é uma criança ingrata em relação à sua vida com a tia no Kansas, e por isso é punida e morta pelo Cilcone. As forças naturais fazem as vezes de Deus nesta historinha, matando a personagem para que esta possa desmascarar o falso Deus que acreditamos, pois na nossa cultura só os mortos poderiam desmascarar os disfarces divinos.

Donnerstag, Oktober 19, 2006

Bloodflowers

As janelas nunca ficavam completamente abertas; sempre a persiana azul piscina(brega)(toda tímida) ficava a dois ou três palmos do parapeito; abrigo dos sapatos fedidos do dono da casa de grades brancas a injetar glicose na barriga; junto ao umbigo: roxo; lilás é cor de calcinha.
Eram dois; os donos, sempre são. Demorei a perceber o quanto fediam. Pelas persianas azuis passava o mal cheiro das gotas de sangue já cor de cobre no fundo da seringa dentro do estojo branco com a cruz vermelha mais pra dentro do fundo do armário; prateleira das roupas do cão. nunca cruzaram o cão; inocente como uma prisão de grades brancas,o cão gostava de Barbies.
[crianças gostam de encher seringas com água]
Injeta, lento. Só já não importa de nunca ter importado. Hello quites com laços cor de fogo? Não, eles importavam bonecas japonesas de porcelana.

Dienstag, Oktober 17, 2006

plágio com personalidade

[alteregos]
David Lynch é o mestre do alterego no cinema. Ficando apenas atrás de:
1)"Persona": drama psicológico de 1966 sobre uma atriz que fica muda após encenar a peça "Electra" e passa então a ser estudada por uma enfermeira com quem cria intimidade e acaba revelando seus mais íntimos segredos mesmo sem falar. O filme também abre a discussão sobre o poder ilusório do cinema, a manipulação das imagens como apresentação social ou subconsciente.
Em "Electra", de Sófocles, versão feminina de "Édipo Rei"; a mulher apaixonada pelo pai volta-se contra a mãe.
"Persona", em termos psíquicos, é a máscara que usamos para encarar a realidade, desde os nossos acessórios mais supérfulos até os padrões de comportamento que repetimos no convívio social.
Em termos filosóficos existencialistas,"a existência precede a essência"(máxima de Kierkegaard); ou seja, existir (segundo o dicionário,"estar em determinado tempo ou lugar") significa mais do que a nossa natureza intrínseca.
2)"Clube da Luta": versão para o cinema do livro de Chuck Palahniuk que apresenta a derrocada de ser em determinado tempo e lugar aos confins do constrangimento físico e moral. Tyler Durden, o fazedor de sabão, é com certeza o melhor alterego da história do cinema. Destaque também para Marla Singer, a sociopata galmourosa que virou referência entre as mocinhas cults.
.
Talvez a maior bronca dos cinéfilos conservadores em relação a Lynch seja devido à tendência do diretor à multipilicação de egos. É notório que em "Cidade dos Sonhos", seu trabalho mais recente, a loirinha sem sal é o outro eu invejoso da opulenta morena (ambas atrizes; referência preferida dos diretores na retratação de alteregos, já que a profissão exige que se incorpore vários personagens) quem sabe o cowboy misterioso um alterego da América, e por aí vai. Em "Estrada Perdida" o espião é também o duplo do personagem principal que, por sua vez, se divide em dois; um no início do filme e outro no final (coisa que só havia visto antes em "Este Obscuro Objeto do Desejo", de Luis Buñuel, também outro clássico no quesito "dupla personalidade"). Curioso que até o próprio personagem principal em "Estrada Perdida" é duplo: um casal.
O maior mérito de David Lynch (fora sua excepcional capacidade técnica para criar climas de suspense fantástico), está na desmistificação da "persona", os personagens não se apresentam atrás de máscaras sociais e sim através do próprio subconsciente; daí o desfile de imagens surreais flertando com nossos piores pesadelos.
[Alterenergia]
Em tempos de Física Quântica, Ana Maria Braga convidou alguns místicos para revelarem em canal aberto o dia do grande fluxo de energia. É claro que eles citaram a Física Quântica para provar a veracidade do evento. Segundo os profissionais da energia cósmica, durante o dia de hoje toda a energia dos seu pensamento (que, não se esqueça, pode alterar até moléculas de água) poderá causar danos ou alegrias multiplicadas.

Sonntag, Oktober 15, 2006

what the bleep do we know?

1)"Quem somos nós?", filme sobre Física Quântica, não tem de fato nenhum comprometimento artístico, e isso é bom.
2)Fernando Pessoa já dizia que ver e ouvir são as únicas coisas nobres que a vida contém, os outros sentidos são plebeus e carnais:"A única arsitocracia é nunca tocar. Não se aproximar - eis o que é fidalgo".
3)Tocar é uma ilusão.Quando algo encosta em outro algo as partículas de ambos os algos se afastam para gerar o "impulso do toque", ou seja, ninguém toca em nada; não existe partícula com partícula e sim energia com energia. Apesar de a historinha ilustrativa do documentário utilizar uma quadra de basquete com ares de "outra dimensão" como pano de fundo explicativo, isso fica bastante claro.
4)Assim como as mãos não tocam (inclusive não tocam bolas de basquete; objetos bizarros que estão cheios e ao mesmo tempo vazios, revelando uma escolha muito boa do exemplo) também os olhos não enxergam, ou melhor, os olhos enxergam tanto que no fim não vêem nada; é preciso um corte, um foco; dado, obviamente, pelo cérebro. Os olhos são como câmeras, espelhos e outros objetos que apenas refletem indistintamente.
5)Hoje a Terra é redonda? E em 2050? E o que chamamos matéria (como a bola de basquete que não tem nada dentro além de ar e nem sequer é tocada realmente em termos físicos), será mesmo substancial? O que eu quero dizer com substancial? Tudo depende do modo como processamos as informações ao nosso redor e como esse processamento é levado ao nosso subconsciente.
6)Quando uma pessoa enxerga uma imagem qualquer são ativadas partes específicas do seu cérebro; quando essa mesma pessoa imagina essa mesma imagem as mesmas partes do cérebro são ativadas; ou seja, o cérebro não faz distinção entre o que é vivido e o que é imaginado, entre "real" ou "irreal"("As coisas que imaginei e criei foram sempre mais reais do que as que vivi"-Federico Fellini, que sacava tanto de Física Quântica quanto Fernando Pessoa).
7)Tudo é energia, afinal; não há matéria ou vazio, há apenas caminhos pelos quais o cérebro guia os olhos e os sentidos de maneira interligada, de acordo com necessidades obviamente egocêntricas.
8)"Efeito Borboleta" segue essa mesma linha de possibilidades, escolhas e egocentrismos, porém, como uma boa ficção, coloca o destino na mão de acasos controlados por poderes mágicos.É também um ótimo exemplo de como a tosquisse, a má escolha dos atores e o baixo orçamento podem encobrir verdades existenciais trabalhadas magistralmente na linguagem cinematográfica.

Freitag, Oktober 13, 2006

Zahnbürste

Escova de dentes, leite e ervas; o trio mais vigoroso dos acampamentos. Wood & Stock, dois coroas vindos da ripongagem da época em que não se sabia nem se queria saber do depois. Escova de dentes; Zahnbürste na Alemanha; Zahn = dente, Bürste = escova. Limpar os dentes ou desafiar as armas?
A ripongagem é adepta da mesma?
Seus filhos serão mais ainda.
[Eu cuido do meu corpinho e dentinhos e faço poesia com minha dança frenética de amor próprio]
Hippies coroas fumam orégano quando homens e fazem sexo com poucos critérios quando mulheres. O que será de nós? O que fazem os pós modernos pretensos terroristas virtuais tentando derrubar clichês criando novos?
Vamos escovar os dentes e esquecer o futuro; eis a mais nova contradição. A classe que limpa os dentes? Classe média-medo da podridão que há de vir mas agora foi à luz do vento fotografar as nuvens de tempestade num dia de céu azul. Cabelos verdes, unhas roxas, namorado artista?
DENTE DENTE DENTE
I CARE MYSELF
jOACIRA não pode ser registrada como os pais queriam, com a primeira letra do nome em minúscula e o resto em maiúsculas; o que importa é a sucessão dos fatos e não o começo. Todo começo é irrelevante, só o tempo diz quem vinga e quem tem números de azar na data de aniversário. Leite na infância, ervas na juventude e escova de dentes durante a vida inteira não são receitas de sucesso mas limpar as armas da boca com o fim de ser bem recebido pode funcionar.

Sonntag, Oktober 08, 2006

Rollemwerhalten

Rollemwerhalten => comportamento típico de um grupo social:
den Kopf hängen lassen und die Dinge laufen lassen => deixar a cabeça pendurada e as coisas correrem.
.
A repetição da repetição / comportamento compulsivo e inconsciente / afobamento / cansaço / precipitação / pensamentos viciosos / comunicação instantânea /?/
.podem estar envolvidos.
Afôbo e seus trinta anos levantam para comer panqueca gelada enquanto Marilyn Monroe seduz um vizinho no filme da TV; Afôbo não ia comer as panquecas, mas teve que levantar para fazer xixi. Afôbo consome desmedidamente o sorvete de flocos Kibon depois da panqueca; o sorvete de flocos Kibon é uma sobremesa agradável e gelada. O filme é "Um bonde chamdo desejo", comédia que mescla de forma inquieta o HOT com o INSOSSO.
Afôbo pensa que o princípio do sorvete de flocos rege o comportamento das coisas e pessoas não calorosas, infinitamente mais agradáveis do que a vulgaridade daquilo que produz suor que produz angústia que só é boa quando acaba em prazer não instantâneo. O prazer não instantâneo e não notável é superior aos deleites rápidos e de demonstração pública, como fazer xixi pensando em panquecas de queijo geladas.
.das Ferkel!
[o porquinho]

Donnerstag, Oktober 05, 2006

Love Vigilants

Diálogo entre dois idosos:
- Pra mim tava todo mundo bêbado naquele aviãozinho.
- Não... Será?
- Americano adora whisky.
O uso de cannabis torna os usuários observadores detalhistas, verdadeiros mergulhadores de essências diversas. A dispersão em detalhes é algo interessante que faz com que passageiros de avião não atentem para possibilidades de perigo súbito.
Alguns objetos são estrategicamente escondidos para estimular a dispersão; revistas em português com a versão para o inglês espremida verticalmente no canto estão disponíveis.
Braços, pernas, pedaços sanguinolentos na mata. Pior para os que morrrem ou para os que recolhem? Quase na hora de abandonar o posto e, veja só, uma mão noiva aos meus pés; recolho, ensaco, fumo um cigarro. Sou um ambientalista, não jogo baganas no chão, apago e ensaco. Apago no chão mas, dessa vez, antes do chão, tinha um polegar infantil.
Popó abandona os rigues, Maguila diz que ele é um medroso. O medo é um sentimento apreensivo que ocorre após constatação de perigo; mistura de receio com timidez, o medroso é quase sempre um ser pouco nítido e fraco como todos aqueles que não apreciam o perigo, situação altamente empírica na busca do auto conhecimento. O medo pode ser também um indivíduo pertencente à Média, região da Ásia na Antiguidade; às vezes também um sobressalto do imaginário, como temor de polegares pequenos.

Dienstag, Oktober 03, 2006

Die Intelligenz

é um atributo essencialmente humano pois sua definição está moldada apenas nas construções mentais da espécie dita como pensante; até onde sabemos ou até onde conseguimos pensar? Um cão considerado inteligente é aquele capaz de entender melhor as mesquinharias da mente humana; aquele cujos dentes carrega o jornal até as mãos do seu supremo senhor; bravo patriarca que o manda deitar e quem sabe rolar sem nenhum motivo aparente mas com o legítimo propósito de testar sua inteligência. Dele? Do cão? Aquele que deita e rola é considerado um animal esperto.
Esperto? É aquele que age rápido, astuto. O inteligente é apenas um bom reprodutor de informações. Uma máquina que reproduza com quase perfeição as habilidades humanas é chamada uma "inteligência artificial". O artifício é uma astúcia, mas também pode ser uma afetação.
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uma falta de naturalidade.
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O inteligente consegue captar com facilidade as relações entre o conjunto de dados conceituais diversos ao seu redor e aquilo que chamou-se razão, pois sempre há de chamar-se alguma coisa de alguma coisa, mesmo que não exista. Coisa ou definição?
O esperto não compreende, reduz. A inteligência é a capacidade de adaptar-se à situações e tarefas difíceis, a esperteza constitui-se da fuga sagaz e consciente das mesmas sem sofrer danos.
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inteligência artificial em alemão se diz künstliche Intelligenz. Destaque para o vocábulo künst no início da palavra. Kunst significa Arte em alemão. Assim como no português, a ARTificialidade carrega coisa ou definição?