Mittwoch, November 15, 2006

Tajna

[dessangrar]:1. tirar o sangue 2. fig. debilitar, enfraquecer privando dos meios.
esvair-se, esgotar-se em sangue; perder o que é necessário para o seu sustento.

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O velho estava lá, num dos bancos da frente virado para o cobrador, como não enjoam, meu deus, como não enjoam quando parados e ao mesmo tempo de costas para o fluxo. O vermelho da rosa murcha no colo do velho, os olhos tristes. As ambulâncias correndo ao lado, dos olhos dele. O calor, o sangue; da cor da rosa; que ganhou a bonitona de todos os sorrisos para sua teta; do velho, assim que se encontraram, do outro lado da roleta. Desceram, atravessaram a rua. Tajna, a moça da recepção, viu e, atônita, apertou o botão. Subiu o portão eletrônico e eles entraram, o velho e a dona; da rosa. A pé é foda. Tajna alcançou a maquininha de débito; "paga na entrada". A tetuda com o cartão largou a rosa e apertou, sete dígitos; o dedo contra a maquininha; os olhos, do velho, contra o tempo. Os olhos, de Tajna, contra todos. Ganharam uma chave, a dona e o velho, enquanto Tajna disse, não dizendo, pra passar o próximo, e mais um parou tímido, apertando os dedos contra maquininha; ainda bem que agora só restam os apartamentos luxo sem banheira e secador de cabelo. O velho e a dona da flor, não sei. Ou os dois ou o 2? O meio é uma ilusão, um sempre precisa perder o que é necessário, para o sustento do outro. Tajna largou a maquininha no balcão, pegou a escova de cabelo, penteou os de baixo, atordoada? Quarto 115, chave reserva; correu, achou, a rosa no chão, do lado de fora. Gritou "serviço de quarto!" e girou a maçaneta, na outra mão, a escova; entrou; o velho e a bonitona na cama, ele por baixo e ela por cima; Tajna enfureceu a face e cravou a escova de cabelo no orifício traseiro da bonitona de meia idade. E então, só então, um velho reconhece sua filha? Talvez se ela usasse decotes, teria a visto antes.
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"O Cupim" filme de Carlos Manga de 1959 produzido pela lendária Atlântida Cinematográfica, mostra bem como corrói divertido este sentimento chamado ciúmes. A melhor cena da comédia é quando o mordomo defende a vitalidade que o ciúmes (cupim do amor) empresta à relação, ao que a patroa retruca "Como tu podes pensar isto? Não vê como eu e Tristão levamos uma vida tão boa sem ciúmes? Não vê como nos amamos, como nos beijamos e nos abraçamos quando ele retorna do trabalho?", e o mordomo responde "Vejo, madame, vejo. Vejo mas não me convenço".

2 Kommentare:

Guilherme Roesler hat gesagt…

Gabriela, estas suas palavras "O meio é uma ilusão, um sempre precisa perder o que é necessário, para o sustento do outro", são a mais pura poesia.

Parabens. Abraços, Guilherme

bomqueiroz hat gesagt…

"oríficio traseiro" hahaha, quanta sutileza! E o ciúme, hein, essa obrigação moral que nasce na descofiança, será necessário mesmo? não será apenas um acomodamento para não se perder o meio que nos dá sustento? não sei, mas quase dou razão ao mordomo.

Quem não dessangra não singra!