Mittwoch, März 28, 2007

Um Bolsinho Acolhedor em Tempos de Hits

Então é tempo de consentir, mas você não é o tipo de pessoa que diria o que eu devo fazer. E então eu preciso inventar um novo tempo que começa após o horário do expediente. Então eu escolho primeiro uma música em língua estrangeira medonha que desafia todos os meus esforços cognitivos e fico divagando sobre os estudos que consideram o posicionamento da habilidade lingüística em partes específicas do cérebro. Pode ser que depois eu troque para algo mais picante dentro do meu peculiar estilo que admira todas as músicas que contenham “love” no refrão. “Então você gosta mesmo de muitas músicas”, ele diria bebendo um gole de cerveja com um olhar de pálpebras semi-cerradas e bochechinha esquerda levemente empurrada para cima com o auxílio dos lábios que se movem em semi-sorriso-para o lado. Sempre pensei que todo o movimento implicasse uma direção, mesmo que indefinida. Aí um dia ele chegou em sua posição totalmente definida e disse que não; o que é equivalente a defender a premissa de que perguntas são mais produtivas que respostas e, por pressuposto, questionar qualquer tipo de conceito - como o de literatura, por exemplo - é mais válido que achar respostas. E sempre que me falam de respostas penso instantaneamente em direções. O meu olhar no dele, por exemplo, no fundo da lua borrada em um céu atrás de grades e cortinas. Ele é um homem que descortina sem despir, e comove sem sorrisos. Toda a comoção, por sinal, é séria demais para os sorrisos e os contentamentos banais. Todo contentamento, por si só, é tão banal quanto consentir sem vontade. Ele é um homem para se sonhar em pé na janela com o rosto e os pensamentos ao vento. Ele é anti-herói em combate e eu o amo em todos os seus cigarros de filtro amarelo que me fazem querer ser um bolsinho de camisa listrada. Eu o amo. E isso, isso não é nada, isso só prova que você sempre esteve errado desde o começo.
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[Trilha sonora: "Age of Consent", New Order; "Float On", Modest Mouse; "Taste of Cindy", Jesus and Mary Chain.]

Dienstag, März 27, 2007

float on

Então ele veio andando com sua barriga, sua careca e sua camisa listrada, e foi como se você tivesse de novo 5 anos e vestisse o melhor vestido do armário para ir ao jardim de infância.
[A infância é uma invenção cruel que culmina no planejamento bem sucedido de uma máquina de frustrações com fotos coloridas em revistas que reconhecem os melhores de todas as áreas.]
No mundo real é aconselhável carregar uma garrafinha com água e não olhar para o termômetro que aponta 33 graus em algarismos vermelhos contra a noite sem promessas. E tudo é mesmo assim tão de doer na barriga e suar no nariz; movimentos corporais involuntários que revelam o caos individual e (abram alas para mais um clichê do peito) até que um dia passa alguém como ele e como nunca você não sabe como dizer, explicar e nem sentir direito; mas, assim, escrevendo, parece tudo tão mais nítido enquanto o amor entra pelos seus ouvidos até o final da faixa isolada/escolhida do mp3; quando então, entre um cruzar de pernas e um rosnar do estômago, o silêncio volta ser rompido apenas pelo som dos dedos no teclado. E é tão triste um amor morrer assim no teclado, enquanto ele continua a vagar nos seus sapatos suplicantes pelos beijos de admiração e olhando para cima enquanto no fundo dos olhos transparentes passeiam suspiros de alunas secundaristas. E você sofre espremida em uma bolha vazia de ar. E o calor e os ventiladores continuam, escorrendo nas paredes o líquido gasoso de um arrastar de desejos sujos de pêlos que ventam em um arrepio gástrico; um amontoado de palavras que se conhecem fúteis e inchadas; o fio acorrentado de idéias murchas nos lábios depois de digeridas por um apetite seco; sai, entrega e morre. Você faz, você consome. Aquilo que se cobiça e não se desfruta faz mal às vísceras de porco que foram perdidas nos buracos da sua parede mental. A mente é um computador inimigo do prazer natural; pensar nos faz vulneráveis, expor nos faz fortes; o mundo é um grito por água e civilização. Mas, bem no fundo, o que eu queria dizer é que depois de você jamais conseguirei ser um deserto de plástico novamente.

Sonntag, März 25, 2007

prezado martírio, eu sofro.

{as pernas quentes por baixo da calça de lã; no sol escondido por trás de canções de uma nota, só, nos discos usados metidos em plásticos; rasgos. retalhos. revoltas nas ondas de calor repartindo cabeças de metal aos papéis.}
O meio do vício fica na esquina do peito com o fundo dos nódulos, disse o cigarro de palha ao suco de laranja.

- eu não estou entendendo.

[Just watch her falling down.]

A menina era assim tão linda em suas blusas pretas de bolinhas vermelhas ou em seus pijamas de peixes e ursos. Ela era simplesmente tão doce em sua delicadeza de óculos de plástico no rosto pálido e fresco; ele amava a menina. Ela era simplesmente tão incrível em suas danças malucas e dentinhos; tão colorida em sua elegância monocromática; tão móvel em seus silêncios musicados. O rapaz aguardava na sala amarela da vida.

As pernas frias despontando no lençol alvo de bolinhas de pele suja, a água viva em túneis de ilusão. O cão. A inveja confessa em frente aos retratos nos murais de plasma. O meio do amor fica no fundo do pé na esquina das unhas, disse o suco de laranja ao cigarro de palha.

- eu não estou pensando.

[I’ve got to see her again.]

O rapaz era assim tão confuso em suas palavras imprecisas nos lábios cercados de cravos. Espinhos era o que ele gostava de sentir. Ele era assim dão doído em seus sentimentos de inferioridade em um xadrez contínuo de linhas verdes. Musgos. Nas cordas do peito era unicamente tão drástica aquela prisão de gritos e bocejos. A menina corria de mãos dadas com a morte.

Os balanços de angústia e as formas curvadas da noite nas sombras. O medo das calorias no copo de leite. Imagens feitas de palavras são soluções perdidas, ou jamais vistas.

Dienstag, März 20, 2007

a calça e a manga

"era um amor imaturo";
um dos dois concluiu na mesa de bar sobre aquele romance de msn, enquanto o outro contava sobre não se sentir confortável em um vestido de lolita ou em uma saia escocesa.
o amor é tanto imaturo o quanto é triste o fim prolongado da vida?
a liberdade da falta do medo; o regresso é o próprio fim do caminho nas falhas do corpo; a imagem parada e a letra atleta. o amadurecidmento libidinoso da manga que morre nas calças.
[a fixação reside na problemática chamada não-adaptação de um instinto à progressão saudável dos outros. a falta de ritmo do instinto responsável pela fixação acaba deixando-o no meio do caminho, naquela parte da evolução do corpo humano na qual foi convencionada a idéia de que os estagiários reestruturariam as imagens recebidas pela retina aos moldes do ouvido no fundo da pele. as representações encenadas. os diagnósticos montados. os muros erguiam-se. as areias desabavam. mares engoliam tatuíras em baldes.]
jesus e deus eram a mesma pessoa.

Der Versager

Morava com os tios doentes em um bairro tranqüilo da cidade, uma tranqüilidade que contrastava com os modos angustiados da família. Não gostava de família, não suportava a idéia de que tinha algum tipo de compromisso com pessoas que o haviam ajudado desde a infância; a justificativa era de que, mesmo assim, não tivera uma infância feliz. Não poderia salvá-los, por que lhe ensinaram muitas coisas, menos a salvar uma alma. Que dirá duas. Que dirá um corpo. Ficava sentado depois de um dia de trabalho na frente do modem que piscava acusando falta de conexão. Olhava pro modem, o modem o olhava, nada acontecia. A mesma luzinha verde sempre piscando, a raiva do provedor, da linha telefônica da empresa privada. Uma privada. Cheia. Lotada. Transbordante. A tia reclamava na sala ao lado. O timbre da voz era insuportável, o tom das palavras mais ainda e, as palavras, nada diziam de novo. Ele sentia raiva, e a culpa por ter raiva. E a culpa pela culpa de ter raiva no lugar do ânimo e da desenvoltura necessária para o sucesso. Ele achava que seria um homem de sucesso, os próprios tios confirmavam, na infância. Criança brilhante, adulto próspero. O clichê mais cruel de todos, pensou. A gravata apertava o pescoço, mas ele não a soltava. Não conseguiu sequer abrir as braguilhas para relaxar a barriga marcada pelos elásticos da calça. Marcas vermelhas. O modem piscava. Sem internet, ele estava perdido. Não conseguia mais estudar, ler, sequer mover-se. O modem piscava. Quem sabe, um pouco de Fernando Pessoa antes de dormir, depois que os tios estiverem deitados e o computador esquecido aguardando a solução divina. Fodam-se as reclamações da tia, ele queria um milagre para o modem, e só.
Ele se sentia só. Só no sentido de pouco, só no sentido de solidão. Naquele dia que o modem pifou ele tinha saído do emprego. Uma merda de emprego, mas tinha internet a cabo. Agora ele saiu do emprego e o modem estragou. Em breve iriam chamá-lo para outro emprego, e ele precisaria da internet disponível. Algo com cadastros. Sites. Ele se sentia sem lugar; não bem sem um lugar ao sol, pois desse já tinha desistido. E se agora o modem estivesse funcionando, o amigo lhe diria no msn que ele é um inseguro. Sim, ele é um inseguro, um medroso detestável, na sua própria opinião. Algumas pessoas têm mais medo do sucesso do que do fracasso, dizem. E, realmente, o fracasso não lhe comovia. Mesmo ali, sem emprego, sem faculdade, sem modem; tudo que ele conseguia fazer era manter a gravata apertando o pescoço e as calças estrangulando a barriga. Assim como o fracasso, sua história não tinha um final. Assim como as histórias, os fracassos são um estado de espírito, uma raiva da proximidade, um enjôo da dor.
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Dois dias depois, ainda sem modem, ainda com os tios doentes, ainda sem emprego, o rapaz se sentia culpado agora pela falta de utilidade no ramo das prestações de serviço. Sentia falta do trabalho ao mesmo tempo em que repudiava a idéia de sentir-se pouco digno apenas como um estudante de Filosofia. Na Alemanha, estudar é uma profissão; pensou. Os tios não falavam nada, mas ele notava em seus escassos gestos o pouco caso, uma quase indiferença; na hora das refeições, as poucas refeições que o rapaz fazia em casa. Por vezes ele preferia ficar ao relento tirando fotos digitais do movimento das nuvens, por outras lhe agradava apenas sentar em alguma praça ou escadaria e fumar o seu cigarro. Chamava o cigarro de “meu melhor amigo” nas conversas entre os amigos íntimos, para logo depois ser apossado da culpa pela adoração aos vícios mundanos e prejudiciais. Morreria de câncer, talvez. E voltava a pensar na morte; quem sabe, fossem os cigarros. O rapaz sentia por ainda outras vezes, quase todas, o olhar inquisitório da humanidade. Nesses momentos, achava suas roupas adolescentes demais e seus trejeitos um tanto afeminados. E o modem, que continuava estragado, durante esses dois dias continuou a completar todos os pensamentos auto-reflexivos do rapaz, confirmando que tudo com ele só podia estar errado. Mesmo seus estudos de Filosofia não ofereciam grande atrativo naqueles dias de calor; pegava um livro ou outro, mas só conseguia mesmo ler o “livro do desassossego”. Lia na cama, de noite, depois do cigarro, em frente ao ventilador. Cansava os olhos até não poder mais e só então apagava a luz; não sem antes lembrar que não havia ajudado a tia a retirar os pratos da mesa de jantar e que, talvez, amanhã ela estivesse morta.

Montag, März 05, 2007

Sunday you need love Monday be alone

A TRIO (banda de rock alemã que acabou hit da Volkswagen e da Coca-Cola usando apenas uma guitarra, uma bateria e um vocal cômico) começou em 1981 e acabou em 1985, talvez por isso muitas vezes seja inserida em um movimento chamado Neu Deutsch Welle (nova onda alemã). A Neu Deutsch Welle era a princípio um movimento underground influenciado pelo punk rock inglês, a música new wave e, principalmente, influenciado pelo som e o ritmo peculiar da língua alemã, mas, como era de se esperar, tudo acabou em "mamãe de bandas de um só hit". Uma representante da nova onda alemã é a banda Mittagespause (a pausa do almoço).

Ainda sobre a TRIO, destaque para os hits Sunday you need love Monday be alone e Ja Ja ja.

[If you won't be my brother whatchu wanna be]
[If you won't be my sister whatchu wanna be]

O texto por trás de Ja ja ja fala de encontros, desencontros, maquiagem, consumismo e álcool, enquanto Sunday you need love está mais para cafajestes convictos (assim como ja ja ja está para as pedras voadoras). O Clã das Adagas Voadoras é o nome de um filme chinês no qual as pessoas voam; movimento caracterizado pelo simples manter-se aéreo, por meio de asas e máquinas, ou ainda, um sinônimo para a locomoção surpreendentemente rápida.

[As mulheres que cuidam de cachorros nos contos argentinos acabam tornando-se mães de aluguel de defunto.]

É sempre necessário um aquecimento prévio antes ou durante o falar do que importa: quem sabe um dia sentirei saudades dos meus tempos de universitária otária.

[Subir e descer escadas que são bafos e tiros de gritaria e tinta. Descer e voltar à calçada movediça e seus moradores com cheiro de grama molhada que sinto do alto dos meus passos quentes.]


Eu não gosto de estar sempre no mesmo ambiente; o apego não é nada além de uma simpatia. Fácil é uma palavra que não pertence ao vocabulário adulto. Acomodar-se é fácil, desistir também; desistir é tão maduro quanto um cigarro velho.

Eu hoje vim olhando as casas, as pessoas, as vozes e os calores; queria contar de tudo isso e do sufoco de não imaginar o grito. E então percebi que o grito não pode ser imaginado, criado, dialogado e todos esses ados e ervas da convenção social. O grito não tem explicação, não tem alarde, não tem cor e não tem bom gosto. O grito está sozinho. Ja, ja, ja.

Donnerstag, März 01, 2007

But never guess how the him would scream

Estava ouvindo Flaming Lips, mas troquei para New Order. Me sinto tocada pelas mãos do próprio deus, o senhor que nos ilumina rumo à escuridão eterna. Fogo, chamas, lugares abafados, Ian Curtis. Houve uma enchente de ratos mortos em Manchester quando Ian Curtis arrancou a própria vida de dentro da alma (e é interessante como o termo “própria vida” dá uma idéia de suicídio), quando homens arrancam a vida de dentro da alma, os ratos transbordam. Agora penso que minha substituição de Kurt Cobain por Ian Curtis tem um fundamento por demais auto-destrutivo.

(...)

Percebo que não consigo explicar meu amor de forma lógica e racional e nem mesmo de forma nonsense, só consigo pensar em solidões pesadas de meninos vestidos de preto tomando cerveja nas calçadas de outras cidades, cidades às quais eles não pertencem. E penso que chegaram de bicicleta. Imagino um homem lindo e glamouroso enchendo os olhos das lágrimas mais transparentes que o líquido da garrafa. A transparência é uma virtude? Pode ser, mas impossível imaginar a entonação ou a altura de seu grito.

Não, eu não acho clichê falar da impossibilidade explicar o amor. Acho que o racional pode dar conta, sim, acontece apenas que ele é tão transparente, que deveria escrever um livro. Eu li no bar que há pessoas que são tão sinceras que precisam escrever (um tanto demagógico?). Mas não vou emitir opiniões, só fofocas infundadas (no meu peito-precipício lá lá). Digo ao gigante olho inchado dentro de sua calça jeans, não se reprima!

Falar com o povo é falar consigo mesmo. [É o tchan!] é um grupo musical que representa o ser humano refletindo sua condição perante a sociedade.

Sleep well – feel well.