Dienstag, März 27, 2007

float on

Então ele veio andando com sua barriga, sua careca e sua camisa listrada, e foi como se você tivesse de novo 5 anos e vestisse o melhor vestido do armário para ir ao jardim de infância.
[A infância é uma invenção cruel que culmina no planejamento bem sucedido de uma máquina de frustrações com fotos coloridas em revistas que reconhecem os melhores de todas as áreas.]
No mundo real é aconselhável carregar uma garrafinha com água e não olhar para o termômetro que aponta 33 graus em algarismos vermelhos contra a noite sem promessas. E tudo é mesmo assim tão de doer na barriga e suar no nariz; movimentos corporais involuntários que revelam o caos individual e (abram alas para mais um clichê do peito) até que um dia passa alguém como ele e como nunca você não sabe como dizer, explicar e nem sentir direito; mas, assim, escrevendo, parece tudo tão mais nítido enquanto o amor entra pelos seus ouvidos até o final da faixa isolada/escolhida do mp3; quando então, entre um cruzar de pernas e um rosnar do estômago, o silêncio volta ser rompido apenas pelo som dos dedos no teclado. E é tão triste um amor morrer assim no teclado, enquanto ele continua a vagar nos seus sapatos suplicantes pelos beijos de admiração e olhando para cima enquanto no fundo dos olhos transparentes passeiam suspiros de alunas secundaristas. E você sofre espremida em uma bolha vazia de ar. E o calor e os ventiladores continuam, escorrendo nas paredes o líquido gasoso de um arrastar de desejos sujos de pêlos que ventam em um arrepio gástrico; um amontoado de palavras que se conhecem fúteis e inchadas; o fio acorrentado de idéias murchas nos lábios depois de digeridas por um apetite seco; sai, entrega e morre. Você faz, você consome. Aquilo que se cobiça e não se desfruta faz mal às vísceras de porco que foram perdidas nos buracos da sua parede mental. A mente é um computador inimigo do prazer natural; pensar nos faz vulneráveis, expor nos faz fortes; o mundo é um grito por água e civilização. Mas, bem no fundo, o que eu queria dizer é que depois de você jamais conseguirei ser um deserto de plástico novamente.

1 Kommentar:

grub hat gesagt…

Foi muito bom ler esse texto, mesmo. Não quero fazer comentário plásticos, mas sentir o gosto dele um pouco.Nha-mi.
Gostei.