Mittwoch, Mai 20, 2009

nada demais

Vejamos. Eu quero escrever. Eu preciso apresentar a minha tradução. O nome do conto é "Ich schreibe kein Buch über Kafka", de Wolfgang Hildesheimer. Hildesheimer é um cara bizarro. Ele trabalhou como tradutor nos Julgamentos de Nuremberg, em 1945, aqueles julgamentos dos criminosos nazistas. Ah, vocês sabem. Enfim, ele era tradutor e escritor. Além do que, fazia parte do Gruppe 47, uma associação literária pós-guerra que pretendia ensinar-democracia pra Alemanha pós-guerra e toda aquela coisa. Literatura engajada não é muito a minha praia. Então, o meu conto, "Eu não estou escrevendo um livro sobre Kafkä" é da fase surreal-fantástica do Hildesheimer. Quais foram as minhas dificuldades tradutórias? Em primeiro lugar, a árdua tarefa de encontrar uma tradução em espanhol no Google, que me ajudou deveras na parte do nó mental. Eu quero dizer, na pior parte, pra mim, de aprender alemão: organizar a estrutura da frase alemã (eu diria OSMOSAR a gramática) na mente. A ordem da frase, no alemão, é insana para nós, brasileiros. Eu juro que, pra mim, é equivalente a um cálculo complexo cheio de conjuntos. Eu diria que, inclusive, as gramáticas em folha de língua alemã, com suas belas variedades de tabelas, são como livros de cálculo. Eu acho lindo. Eu acho que ajuda a pensar, esse raciocínio matemático. É o meu CHÃO. Mas, como eu ia dizendo, a versão do conto em espanhol me ajudou muito. O espanhol é, em geral, uma língua mais afetuosa conosco, brasileiros. Eu gosto de Espanhol, acho carismático. Bom, seguindo com a tradução (importante usar sinalizadores de reintrodução do discurso, oi-professora-de-sintaxe) , a segunda dificuldade foi me certificar de que o autor sobre o qual o narrador do conto escreve (já que ele não está escrevendo um livro sobre Kafka e não é porque é sobre Kafka e sim porque todo mundo que ele conhece está escrevendo um livro sobre Kafka e não um livro só mas sim cada um escrevendo o seu próprio livro), chamado Ekkehard Golch, realmente não existe nem nunca existiu; o que eu já desconfiava, pois sim senhor, eu já li Pierre Menard autor de Quixote, do Borges. Mas me certifiquei. Interessante também que o Hildesheimer era escrituário e viveu a vida toda na mesma cidade, e aí ele escreve esse conto que é sobre um cara que morou a vida toda na mesma cidade. Colo a minha tradução deste trecho:
.
.
.
Golch, que morreu em 1929, com 82 anos, foi durante toda sua vida – com exceção de uma juventude sem fatos dignos de nota – professor catedrático em Almünzacht, cidade na qual nem mesmo os trens expressos paravam. Esse fato, menos do que sua indiferença por qualquer espécie de mudança, foi o motivo pelo qual ele nunca abandonou essa cidade e dedicou sua vida inteira, com incansável concentração, à confecção de sua obra. ( Meu capítulo “Viagens interiores” trata de tais fluxos de pensamento, mas chega a um plano que extrapolaria o curso desta pequena justificação.)
.
E o original:
.
Golch, der im Jahre 1929 sechsundachtzigjährig starb, war zeit seines Lebens - abgesehen von einer äußerlich ebenso ereignislosen Jugendzeit - Studienrat in Altmünzach, einer Stadt, in welcher Schnellzüge nicht halten. Wohl weniger dieser Tatsache als vielmehr seiner Gleichgültigkeit gegenüber dem Bereich der Abwechslung ist es zu verdanken, daß er diese Stadt niemals verlassen und sein Leben mit unermüdlicher Konzentration seinem Werk gewidmet hat. (Mein Kapitel «Innere Reisen» befaßt sich mit diesen Gedankenvorgängen und verfolgt sie auf einer Ebene, welche den Rahmen dieser kurzen Rechtfertigung sprengen würde.)
.
.
.

Gedankenvorgängen (gedank.=pensamentos/vorgang.=processos) virou "fluxos de pensamentos" por questões estéticas. As literais "viagens interiores" eu queria trocar pra "viagens introspectivas", mas achei muito ousado e deixei assim mesmo. As aulas de tradução podam afu minha ousadia, e isso pode ser, sim, um manifesto. Acho que essa seria minha terceira dificuldade. Eu tenho 5 minutos para apresentar minhas dificuldades, então acho válido uma por minuto.
.
.
A quarta dificuldade foi então descobrir se James Boswells existiu - James é o cara sobre quem Golch escreve e que, pra minha surpresa, realmente existiu e foi mesmo o biógrafo de Johnson, o imortal lexicógrafo, também citado no conto. Então, concluindo, Hildesheimer escreve um conto no qual o narrador está escrevendo a biografia de um biógrafo imaginário que escreve sobre um biógrafo real: o Johnson, que era lexicógrafo mas teve que abandonar os estudos e trabalhar como tradutor para sobreviver. Traduzindo para comprar o pão de cada dia; que coisa, não? Será que traduzir é sempre tão assim last-chance (xenomania afu)?

A Wiki também me contou que o tal Boswells foi deprimido durante a infância porque a mãe era calvinista e o pai muito frio com ele; e que o tal Samuel Johnson é o autor de uma famosa frase: "O patriotismo é o último refúgio de um canalha". Mas ainda preciso estudar mais sobre ambos, antes da apresentação, que é sexta. E agora são duas da madruga e amanhã eu tenho aula às 7h30. Mas enfim, só indo pra última dificuldade, que meio se entrelaça na terceira: eu queria muito traduzir o título do conto par: "Isto não é um livro sobre Kafka", para remeter ao cachimbo do Magritte, já que a temática de todo esse livro, "Liebelosen Legenden" (histórias de falta de amor) é surreal e tudo mais. Mas eu acho muito ousado. Será? Bom, só queria compartilhar um pouco, o resto acho que seria muito complexo, então encerro com uma tirinha do amigo Sieber que me odeia:





Beijos para schlafen.