Freitag, Dezember 07, 2007

3 Jardins, sobre a opção sexual

No primeiro dia de aula, Fernando chegou atrasado, com uma camiseta do Tigermilk. As menininhas desde sempre costumam gostar dos garotos despenteados que fumam escondido durante o recreio, e não dos que brincam de futebol de botão e tomam leite. Ele era do segundo grupo, for sure. Provavelmente jogava videogame e lia quadrinhos de ficção científica, mas era encantador. Me sinto um tanto infantil lembrando dele; como um garotinho de 10 anos tentando saber de quem vale a pena, ou não, gostar.

O fato é que Fernando me fez acreditar que eu sabia exatamernte do que gostar, quando entrou com aquele sorriso bobo e perdido.

THE LOST ART OF BEING SILLY, adoro.


Fomos colegas em mais duas cadeiras, acho. Gostávamos dos mesmos livros, filmes, discos. Mas só isso. Ok, pensando bem, não gostávamos 'bem' dos mesmos; na verdade eu passei a gostar de todos os preferidos dele. Ouvia Arcade Fire no ônibus e arrumava o cabelo com mais esmero, ao estilo carregue-um-espelho-na-bolsa-e-uma-música-no-mp3 player.

O caso é que ele me lembrava jardins. Me dava essa sensação de verde e maduro, de florescer e murchar também, também murchar, mas sempre renascer. Essa coisa de brotar e cair e comer e sempre ter outro fruto esperando, florindo, nascendo. Essa circularidade colorida que emana dos jardins e dos INDIES.

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Um dia eu estava no ônibus com meus headphones e vi um jardim. Pensando bem, talvez fosse um pátio. Nesse pátio tinha um homem de esvoaçantes cabelos escuros mas, pensando bem, acho que era um chapéu. Ele regava a grama e era alto. Bem, pensando bem, nem era tão alto assim. Tive certeza que era o homem da minha vida. Então esqueci o Fernando.

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O jardineiro se chamava Roberto, fomos casados por três anos. Certa vez, durante o casamento, eu estava na aula de musculação e vi, de relance, ao meu lado, um desses homens muito, muito bonitos. Desses que a gente não consegue nem encarar pois tem certeza que ele sabe o quanto o achamamos bonito apenas pelo olhar. Indisfarçável. Me deu vontade de olhar de novo, mas então lembrei de Roberto; nessa época nossa relação já estava bastante sólida, ou seja, eu era casado, leal e companheiro. Não, não valia a pena olhar de novo para o lado mas, céus, ele era realmente muito bonito. Pensei em Roberto. Não adiantou. Olhei para o lado de novo, procurando o homem que exerceu sobre mim tamanho fascínio e me fizera cogitar ser infiel; quando percebi que, vejam vocês, eu estava apenas atraído pelo meu prórpio reflexo no enorme espelho da academia de ginástica.

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[Ass. Peopletryhardtolie]

Dizem que assim você morre mais fácil do que sem água.

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