Samstag, Oktober 27, 2007

A paixão mais sincera é a da comida.

Velda procurava uma lanchonete no centro de uma cidade grande, algo fácil e ao mesmo tempo longe do habitual, ademais tão disperso de suas verdadeiras e mais ambiciosas intenções ali mas, enfim, lá estava ela perambulando em uma manhã de chuva com o queixo direcionado às nuvens cor de chumbo contornadas pelas suas antecesssoras de um branco azulado. Estar em uma cidade desconhecida é como estar fora de si mesmo, não reconhecendo os padrões de atitude requeridos ao momento. Não reconhecendo nem a padaria da esquina nem o ritmo fônico dos habitantes; estar fora é estar perdido dentro de si mesmo. Velda se sentia assim, e era boa essa sensação de chuva e cigarros nervosos que procuram a boca enquanto os olhos procuram o alimento ( da alma?). Então a garota lembrou de uma canção, como nunca se pode evitar em situações tão novas e eletrizantes que nos invadem como um videocilpe a um pré-adolescente; ela se sentia 'just like a woman' na parte do 'i just don't fit', mas era uma sensação de labirinto floreado (ou seria cadeado? ela não podia evitar) e não de muro de concreto, se é que vocês me entendem. Enfim, o verdadeiro sentimento de inspiração. O auge da veia criativa pulsava em Velda e em suas pernas fortes em braços fracos e apesar disso, todos os membros se dirigiam a um ponto comum. A sincronia do corpo de Velda e a música e os jardins verdes monocromáticos e cercados das calçadas formavam um ângulo mais simples do que a preparação dos dedos antes de uma jogada de sinuca. Simples como um vento de tempestade que tarda para que pairem as garotas e seus radinhos de computador em esquinas segurando sacolas com potes de sorvete. Velda assistia a essa movimentação dos habitantes com sacolas e comidas e pastas e jornais e bancas de revista e lembrou então de outra canção (talvez fosse Caetano Veloso). Velda não gostava de Caetano Veloso, tudo que ela queria era um sanduíche de salame com ostras e sal de mar. Velda estava delirando. O monte de areia a sua frente por um segundo tranformou-se em uma pedra-perda que bem poderia ser um sofá ou uma gaivota. Seus olhos se dirigiam a um novo ponto enquanto as pernas continuaram no rastro do antigo. O sucessor era indefinido, sem direção nem intenções e nem, bom, já não importa. A emoção só pode ser encontrada
em caixas de correio, concluiu, atirando-se sobre as rodas dos caminhões e motos no trânsito de sua mente-coração. O suicídio da alma só encontra abrigo nos biscoitos made in OUT. Ou em pedestres desavisados e sonhadores (mu-mu ou moça?), dá no mesmo.

(Velda encontrou a lanchonete mas perdeu o trem.)

1 Kommentar:

em desconstrução hat gesagt…

velda breve voltará