Donnerstag, Februar 22, 2007

A coragem

E então vem aquela náusea de café, como a alergia de todos os gostos rotulados e nocivos. Frágil; a vontade de derreter em uma cama macia de lençóis embolotados do próprio suor. Feio, sujo e sincero. Caio Fernando Abreu era um mauricinho?
Entrar molhada na chuva e jogar as meias na única poltrona qualquer e depois deixar a porta do banheiro aberta; não se deve julgar uma pessoa até o dia de sua morte.

Um dia de tempestade foi o ponto de partida para as reflexões de Diná; a chance em uma urgência. Diná era uma compulsiva por certezas.
[As idéias delirantes são ensconderijos de sentimentos primários esquecidos.]
A obsessão pelo que se julga inabalável habita nos devaneios, corre por essas vontades primitvas abandonadas que se dissolvem nas idéias ansiosas. A criança excesssivamente agitada recebe adjetivos idênticos aos da criança que se opõe à moral.
Diná olhava pela janela do ônibus a tempestade que se consumava agora. A mesma já prevista no céu de nunvens cinza-chumbo iluminado apenas pelo alaranjado das lâmpadas penduradas aos postes cheios de fios no alto da avenida em um final de tarde, enquanto as duas se dirigiam ao ponto de ônibus.
O ponto de ônibus que parecia tão longe e os raios tão perto, a mãe que parecia tão alegre elogiando o ar fresco que denunciava os pingos nos óculos de Diná; lentes e janelas no fundo de todos os vidros. A mãe tão alegre, almost dancing in the rain. Mas isso foi antes.
Antes do ônibus cheio e aqueles homens lá no fundo gritando alguma coisa que fazia a mãe abraçar a filha. Diná não tinha medo dos homens, tinha medo da tempestade e não queria ser abraçada. Foi quando pensou que o simples fato de desvencilhar-se da mãe seria uma afronta; mesmo a felicidade da mãe a confrontava.
No entanto, cumprir o dever de forma excessiva a condenaria para sempre a passar o resto da vida em uma praça com balanços e gangorras mas entre muros altos como um reforço contra os desejos. Diná julgou a reflexão por demais ameaçadora. Enquanto isso a chuva aumentava e os homens gritavam palavras confusas que assutavam a mãe, Diná sentia o aperto dos braços pegajosos que apesar de tudo não faziam com que ela se sentisse segura ou mesmo próxima; a criança nunca sabe se a ausência é uma distância, uma alienação ou uma morte. E assim, Diná levantou de seu assento e foi sentar no colo de um dos homens que gritavam.

3 Kommentare:

Anonym hat gesagt…

ótima =)

Anonym hat gesagt…

quero não querer nada!
nem colo
(ai que saudade dum colinho)

Carolina

Gerusa hat gesagt…

me deu vontade de filmar isso.
até pensei em tentar de novo a faculdade de roteiro.
depois percebi que o que me encanta aqui é algo no subterrâneo das palavras. que nem o melhor fotógrafo poderia iluminar com precisão e verdade.
daí me contentei em ler mais sete vezes em seqüencia.