Samstag, April 07, 2007

carta ao batom

Querida Sputnika,
Não foi exatamente isso que eu quis dizer, é apenas que um dos meninos se preocupa em excesso com as aparências enquanto o segundo almeja transparências (risos) tenho lido muito isso que chamam poesia. Aprendi que no Brasil ninguém sabe escrever, sempre aquelas narrativas calcadas no desbunde ou na escassez da terra. Mogwai é uma banda que me dói. Bukowski me dói, sabe? O escracho é sedutor mas a timidez é tão misteriosa. Então, o que eu quis dizer sobre os garotos que conheci no último mês aqui na Alemanha é que um deles é por demais extrovertido; extremamente preocupado em agradar aqueles com quem convive, enquanto o outro, se pudesse, apenas se faria presente nos momentos de necessidade (como situações de doença que exigem visitas periódicas aos hospitais de atendimento público sem bancos confortáveis para uma leitura de consciência tranqüila, você me entende, Sputnika?). Puxa, será que você pode entender o quanto é, reconfortante ler uma besteira qualquer ou um cânone pegadão sem nenhuma pretensão além de relaxar a retina das imagens multicoloridas dos outdoors e revistas de fofoca em prateleiras de mercadinhos chinelões? Mas eu apenas queria, dizer, minha amiga, que Mogwai já não me dói mais. Que talvez eu prefira Of Montreal. Que quem sabe o egocentrismo está em todos nóis, mas, eu apenas quis dizer, nas outras cartas, que as pessoas que não tem amigos, como o segundo menino, precisam produzir alguma coisa; um filme, um livro, uma música. Ou se tem amigos ou se é artista. Ou se tem amigos ou se tem público. Não há como escapar da necessidade de elo humano. Assim como não há como escapar daqueles sentimentos de ligação inexplicáveis como uma equação de física no quadro negro de um jardim de infância e intocáveis como um jardim de infância em período de recreio. Amigos de recreio já revelam se serão extrovertidos ou introvertidos, no seu sentido mais chulo.


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De qualquer forma, o garoto extrovertido se apaixonou por uma modelo. O introvertido, continua, talvez, esperando o momento certo. Ou quem sabe ele tenha entrado para a faculdade de Letras de sua cidade e agora possa ser visto nos bancos sujos de concreto com um violão e um ar de intelectual valorizado de modo a compensar os anos de humilhações infantis/escolares sucessivas. Enfim, fodam-se os garotos, eu acho. Nina Hagen já dizia: “menininhas é que são sádicas sexuais”; pequenas e singelas “mães da escória”. Todas. Mães dos que se protegem e dos que se entregam; mães dos ovos de páscoa e dos que assinam “jesus te ama”. Mas o que eu queria te contar, Sputnika, era que, als kinder, eu tive uma visão. Na verdade, duas. Primeiro, um homem de azul no mato; depois, um homem de gravata, na sala escura, apenas da cintura para cima, como um apresentador do Jornal Nacional, só que flutuando. Não sei se você vai conseguir perceber a sutileza, mas, talvez, isso seja uma referência ao choque cultural entre o modo de vida rústico e a urbanização. Agora vou fumar um cigarro. Por favor, reflita. Beijos. Sua Germanjapa.

3 Kommentare:

Anonym hat gesagt…

Me fez por demais pensar. Mas existe um n´outro. Nós.
Seria de difícil retórica (tentar) explicar que (as vezes) a aparência esconde segredos e que mesmo quando se trabalha num (ou com um) mundo fútil (e portanto aparente) as coisas tendem a se confudir. Digo pessoa versus objeto. Alias, não sem razão (nessa ordinário mundo em 95% dos casos). Porém nem tudo é o que parece (adorável clichê).
Sem grandes mergulhos, mas evitando o saber profano - como exemplo vale a piada do decorador (a da beleza interior), porque a fachada também é bonita - a vida nos reserva surpresas.
Meu pai sempre me jurou de pés juntos que nunca se poderia afirmar que o sujeito é fruto do ambiente, pra ele o sujeito é outra coisa (uma gororoba) e estou vivendo algo que me diz que sim. Uma dessas equações matemáticas de probabilidade 0.X, um número baixo que contradiz grande parte das minhas afirmações anteriores. Quase todas menos àquela referente a "a vida nos reserva surpresas". Agradáveis ou não. No caso, sim.
Mas já te ocupei muitas linhas, deixa pra uma conversa de botequim umas possíveis resoluções... talvez agradem. Té agora, who knows?

Fim do capítulo.

Pós-bar pensamentos nebulosos e estranhamento sopinha de letras.
Take care, sweet. Vc é mto mto bem quista.

Anonym hat gesagt…

Devo pensar que o artista tem público ou amigos? Porque admito ter ficado intrigada com tal pensamento. Me parece tão coerente e ao mesmo tempo tolo. Tolo por que não penso em dividir e compartir dois tipos de relações no qual uma excluí a outra (até porque em certos casos uma nutre-se da outra). Mesmo quando não se é artista, se é uma pessoa apenas com amigos, em muitos casos, sempre acabamos por possuir nosso público também, em função dos amigos. E um "ou não" agora seria muito pano para a manga.

em desconstrução hat gesagt…

ô Germanjapa, vou ser canalha, como não poderia deixar de ser


http://tiranialibertaria.blogspot.com/