Mittwoch, Juli 01, 2009

viva o sexo selvagem musical!

Sabe, acho que eu vou ter 40 anos e ainda vou escutar Love Minus Zero e achar que as coisas são realmente simples e legais quando a gente se esforça para vê-las assim. A gente vive em função do outro, essa é a real. Essa coisa de saber demais pra julgar ou argumentar, céus, isso é muito divino, Bob Dylan. Não é assim. Não tem ninguém assim; mas PODE ser assim, se você SENTIR assim, entende? Não é uma questão de PENSAR positivo e sim de SENTIR positivo. Acho que pensar SUAVE pode ser o que eu quero dizer com "sentir positivo"; falar como o silêncio: sem ideais nem violências, mas com olhos de fogo? É, Dylan, mais ou menos isso. E, céus, como ele é bonito; como a beleza e a elegância e a genialidade podem sim ocupar um mesmo corpo. Bob Dylan. Eu tinha um namorado que era assim. Ele era provavelmente o que você chamaria de mau-caráter; é, com certeza bonzinho ele não era mas, de fato, ele era genial e lindo e elegante. E eu era louca por ele. E só agora, passados alguns anos e algumas letras do Bob Dylan, eu consigo começar a entender o que me atraía tanto nele: era essa suavidade de pensamento. Ele não problematizava muito as coisas mas, ao mesmo tempo, não era vazio, entende? Uma alma sutilmente substancial. Era absolutamente fascinante o modo como ele demonstrava que estava me entendendo sem problematizar nada, com um silêncio absolutamente sábio, do tipo que se deleita com as palavras alheias e se desculpa com atitudes e ritmo ao invés de palavras. Por exemplo, uma vez que ele se atrasou, logo depois ele roubou uma rosa, do jardim da delegacia de POLÍCIA, e me deu. Era a rosa mais vermelha e linda que eu já vi; eu tinha ficado olhando pra ela fascinada quando a gente passou pela frente da delegacia, que era a caminho do nosso destino. Eram umas doze rosas, na verdade; enormes, expressivas, com cara de bem-cuidadas e protegidas: eram filhas da rosa neurótica do PEQUENO PRÍNCIPE; eu pensei. Rosas de delegacia! E meu namorado, um verdadeiro pequeno prínicpe, pulou o muro da delegacia e me trouxe uma delas. Pois é, ele era assim. Ousado?
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Ele não entendia porque eu problematizava tanto as coisas, mas era capaz de ficar uma noite inteira ouvindo as minhas problematizações. Passamos algumas boas noites de inverno vagando bêbados pela cidade com uma garrafa de conhaque sempre comprada no Zaffari, e eu falando sobre despertar de mágicos, nove luas, mil universos e Hermann Hesse. Eram boas noites mesmo, e eu quero dizer noites que duravam até às 8h, talvez 10h da manhã. Lembro de uma vez que a gente foi parar numa cobertura que parecia um legítimo ap de Nova York, algo assim ao estilo Woody Allen; bem simples, tipo um super JK, mas com uma simpática cobertura e livros, discos e cervejas por toda parte. A gente nunca sabia onde ia parar e era divertido; a gente só se olhava nos olhos e sabia que ia ser divertido. E o sol a pino. E eu de óculos de sol e blusa florida pegava na mão dele mas, pensando bem, nesse dia a gente nem era mais namorados. Depois de acabar o namoro a gente continuou saindo pra conversar bobagens, ou melhor, pra eu falar as minhas bobagens e ele me brindar com sua compreensão silenciosa, humilde e sábia. Que coisa! E não é que a gente continuava a vagar bêbados pelos invernos que amanheciam quentes em coberturas loucas? E depois a gente sempre terminava tomando um café no bar da universidade pública da nossa cidadezinha vulgar. Era engraçado ver as pessoas indo pra aula enquanto a gente voltava da noite. Eu tinha vontade de ser aquelas pessoas; eu lembro de falar pra ele que eu era metade uma louca da noite e metade uma pessoa daquelas. Eu tinha lido no Demian do Hermann Hesse sobre a aflição do boêmio ao contemplar as criancinhas em suas roupas limpas e brancas de uma manhã dominical. Eu não lembro o que ele disse; provavelmente ele disse "vamos fumar um cigarro no sol" ou algo assim. Não, pensando bem ele não diria isso. Ele nunca fugia de nenhum assunto; era silencioso, porém atento. Um tanto vaidoso, é verdade, mas realmente uma graça de guri - em todos os sentidos que podem ser atribuídos à palavra graça. Ele não era místico e provavelmente fosse ateu, mas com certeza ele diria que acreditava em Deus se a ocasião pedisse; ele diria "mas é claro", e baixaria a cabeça para rir cinicamente com sinceridade. Será que esse garoto foi um dos grande amores da minha vida? Ficamos pouco tempo juntos pra saber, mas o suficiente pra sentir de verdade essa simplicidade das almas sábias. Ah, não sei se ele era uma alma sábia, mas eu gostava do jeito como ele priorizava as sensações ao invés das reflexões e problematizações. Por exemplo, como eu ia dizendo, ele não era místico; mas quando a gente acabou ele disse pra um amigo que era óbvio que ele não poderia dar certo comigo porque, céus, eu era capricorniana! Sabe?


Ser simples é a coisa mais difícil do mundo, mas fácil é uma palavra que não pertence ao vocabulário adulto; só que, paradoxalmente, como pode ser tão simples ser difícil? E tão fácil?

E o que eu queria dizer lá em cima, sobre viver em função do outro, na verdade, é bem simples; é aquela coisa: se você não quer que os outros saibam, não faça; é viver de acordo com "como você gosta de ser visto"; se você realmente entra a fundo nisso, você realmente começa a SENTIR isso? Que você É isso? Você tem uma vida secreta? Pois então vamos mal, assim fica tremendamente mais difícil; é preciso tornar simples os segredos, quem sabe tornar ficção, quem sabe tornar música, quem sabe entornar cerveja e tornar mijo os segredos. Eu acho que eu falo coisas nojentas, às vezes.

Eu lembrei hoje de um diálogo, SIMPLES: um cara me disse que tocava bateria, eu disse pra ele que bateria era difícil, ele me respondeu que tudo na vida é difícil. E depois ele olhou bem pra mim e tirou uma foto da minha cara. Tudo bem, nada demais até aí; porque o incrível mesmo não tá nas palavras (e talvez ele quisesse dizer isso quando tirou a fotografia - talvez não, mas eu gosto de pensar que sim), o incrível era o rosto calmo e SIMPLES que ele exibia ao mesmo tempo que me dizia que tudo na vida era difícil; ao mesmo tempo que ele me dizia que as coisas eram todas complicadas ele exibia aquele semblante despreocupado que só os meninos de 20 anos tem. Sabe? Eu penso demais sobre as coisas. Eu quero sentir melhor. Eu quero sentir as outras pessoas; um escritor precisa de humildade e não de talento. Eu acho.

Obrigada, leitores fiéis. Eu amo vocês; deveras. Eu acho né, eu acho. Ou eu procuro, vai saber. O importante é não problematizar.
Será?
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