Donnerstag, Januar 04, 2007

chopps não matam animaizinhos

(folha 1 do diário de uma nova vegetariana)

Os dois litros de chopp me pesam na cabeça mas como é incrível que nunca pesam no coração, esse sempre voa levinho, tão levinho que sai se batendo por todos os cantos duro do peito,
esses cantos-esconderijos de mágoas escondidinhas fedidas que não saem para fora pelo simples motivo de não ser todo dia aquele o qual tenho grana para me atolar no líquido amarelo-laranja cor do mijo fedendo tanto quanto os rancores escamoteados que hoje saíram pra fora. Quando se tem dinheiro o chopp entra e a mágoa sai depois de tanto ser espancada por esse bate-bate-coração ventinho dizendo eu te considero, eu te amo, bate-bate-levinho deslizando no peito até encontrar não sabe como algo como aquele pingüim que Tyler Durden encontra sempre em suas meditações de grupos de auto-ajuda no filme Clube da Luta. É assim: ele está levinho, levinho meditando e quando o mestre do grupo diz "pense no seu animal interior" ele vê um pingüim e acorda da meditação na mesma hora. O que eu quero dizer é, para encontrar um monstro interior ele não precisa ser necessariamente um monstro (pode ser um pingüim) mas ele precisa ser necessariamente encontrado num momento de profundo relaxamento e paz de espírito (como numa rodada de chopps); é preciso alcançar a leveza mais ventinho de um coraçãozinho saltitante para que ele bruscamente bata direto no poste das mágoas. É só isso, tudo uma questão de confiança infundada e vulnerabilidade.

[Você sabia que o chopp é a cerveja que não passa pela pasteurização? Eu li hoje em um daqueles redondinhos que os garçons vão amontoando embaixo do copo pra gente não perder a conta; chopp é caro, e sempre vem com esses redondinhos com marcas de cerveja ao fundo, estampado por cima com essas letrinhas que na mesa do bar fazem a gente pensar "eu já devia saber, apenas não lembrava".]

Tudo apaixona mais, tudo irrita mais; é uma cabeça à flor da pele, eu diria; coração, não. Coração não tem paranóia nem mágoa, coração só guarda uns cantinhos do peito pra ser casinha das mágoas da cabeça. O coração é um pobrezinho sem força própria quando as neuroses gritam de dentro de uma cabeça pesando 2 litros de chopp. E mais alguns cigarros. O câncer é um filho que foi embalado no mesmo colo que cresce enquanto os bares somam-se; apenas uma criança. Eu me sinto muitas vezes assim, com essa sensação de não-queria-ter-brigado-quero-voltar-no-tempo-não-posso-acreditar-que-em-dez-minutos-tudo-ficou-tão-escuro. E chopp escuro é coisa de veado.


(Eu não quero dizer que o animal interior de cada um é um monstro, mas o Bambi talvez queira.)

10 Kommentare:

pig hat gesagt…

hehe
belas comparações (na falta palavra melhor)fiquei tri feliz que tu voltou a escrever aqui.aliás, nunca comento, mas tu sabe que sempre leio e aprecio, né?

e essa semana, vamos dar valor ao tão famoso chopp textura? :D


Gabi, tu me adiciona, como pessoa, e esses amigos adição fazem parte das minhas metas de ano novo. E outra, coisa, o guilherme é um queridão também :]

beijos pros dois.

em desconstrução hat gesagt…

Essa moça se encontra no trânsito entre um cabeção e suas vísceras; a Gabi tem dentes nos olhos (flor carnívora) e nos dentes um muro de sorriso.
Ai, mas eu tô lôca pra tomar um trago contrigo!
Amo te ler.
Beijo grande.

bomqueiroz hat gesagt…

Adorei esse sentimento materno em relação ao câncer. O meu já não é de colo, caminha...E o chopp é uma bosta, eu gosto é de cerveja!

Anonym hat gesagt…

Cenouras e Pastéis podem dar um belo texto..acho q qualquer coisa/situação tu transforma em algo belo :***


valeu pig...tu e o wally são muito massa tmb =D

Eyevan hat gesagt…

Não vou dizer feliz ano novo, uma vez que isso é contra as minhas convicções pessoais (afinal de contas, sempre defendi que o ano novo de uma pessoa começa no dia do seu aniversário). Mas, uma vez que o mundo parece ter suas (im)próprias convicções, espero que a balança penda mais vezes a seu favor do que no ano passado.

E, como uma daquelas notas de rodapé – que muitas vezes são chatas, ainda que importantes em qualquer bom texto – digo: o pingüim é o animal interior do narrador, não da Marla Singer.

Um beijo

G hat gesagt…

e pingüim tem trema! que vergonha!O_O

correções feitas. mas já parou pra pensar que talvez a marla singer seja mais um desdobramento da personalidade do narrador? a parte feminina do ego, quem sabe..(hehehe)

Guga Schultze hat gesagt…

O animal interior é uma entidade fantástica; qual o animal interior do Pinguim, digo, do Pinguim do Batman? Eu gostaria de saber do meu animal interior, mas ele vive nas sombras e eu não o enxergo. Bebo mais uísque do que cerveja e muito mais suco de maçã do que uísque. Em cima desses textos (da Gabriela) a gente pode ficar um tempão pensando. Literatura, acho eu, é isso aí.

Daniel Weinmann hat gesagt…

"é preciso alcançar a leveza mais ventinho de um coraçãozinho saltitante para que ele bruscamente bata direto no poste das mágoas"

Muito bonito isso!

Eyevan hat gesagt…

Pense assim: narrador (Edward Norton, puta ator) é o Ego. Tyler Durden (Brad Pitt, outro puta ator) é o ID. Marla Singer (Helena Bonham Carter, idem no feminino) é o Super Ego. Faz sentido?

E como eu sempre digo "mamãe mandou tomar juízo, mas só tinha cachaça".

Anonym hat gesagt…

'Coração não tem paranóia nem mágoa, coração só guarda uns cantinhos do peito pra ser casinha das mágoas da cabeça'

aaaaah
:~