Montag, August 03, 2009

Ai, ai - at heart

Que a gente só dá valor quando perde, eu já sabia; mas eu queria realmente saber qual a mola propulsora desse clichê inegável. TUDO fica mais encantador e romântico quando longe de uma possibilidade de realização. Antes esse TUDO era meio hipotético e até entediante. Agora, quando penso no referido tudo, acende uma luzinha PISC JÁ ERA e eu sou possuída por uma melancolia que chega a doer um pouquinho. Assim, uma pontadinha na superfície coronária. Será que quando a coisa se torna inacessível podemos pensar com mais clareza sobre ela? Será que essa clareza vem do fato de não precisarmos mais tomar uma decisão? Não existem mais escolhas envolvidas então tudo fica mais claro? Eu quero dizer, quando o referido TUDO está disponível podemos pensar em agarrá-lo com todas as forças ou deixá-lo ir. Quando ele já foi, não precisamos mais escolher, o rumo foi tomado. Então podemos lamentar. Só lamentar?

Isso me lembrou uma frase qualquer solta na internet que li essa semana; falava sobre a dificuldade de tomar decisões na minha geração e apontava como principal mola propulsora a diversidade de escolhas que podem ser feitas; era algo como "não conseguem decidir o que vão ser porque podem ser qualquer coisa."

Então eu penso que talvez seja por isso que só damos valor às coisas quando elas se vão. Reduzindo-se o número de possibilidades, é mais fácil agregar valor. Então agregamos valor ao nosso lamento, que é o único que resta? Ó, céus, eu não sei. Admito que ainda existe uma vasta variedade de escolhas a serem feitas bem diante do meu nariz, mas eu não quero fazê-las. Existem os obstáculos, e não se pode negar a existência dos obstáculos. Eu diria que a própria vida é um tremendo obstáculo para a própria vida. Estar vivo é uma possibilidade muito vasta para que o valor seja agregado. Ó, céus. Mas não era disso que eu queria falar. Eu queria falar de como dói pensar que eu poderia ter ido e simplesmente não fui, e era tão claro que eu não queria ir. Ok, talvez não fosse tão claro. É que, simplesmente, a escolha IR envolvia uma gama de outras escolhas que eu não estava preparada ou não queria fazer. Uma escolha sempre envolve uma gama de outras escolhas e, no fundo, esse deve ser o problema. Quando a escolha que colocamos no centro PISC JÁ ERA, nem pensamos mais nas escolhas periféricas envolvidas. O fracasso da possibilidade desperdiçada toma o centro. O atacante culpa-dúvida-chocolate ataca e GOL. Talvez o importante mesmo seja pensar que as escolhas periféricas continuam ali. Zagueiras? É, talvez eu precise começar a usar melhor o meio-de-campo. E aí volta minha dúvida de preenchimento do vazio-da-fé: devo tentar a religião ou o futebol?
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Uma coisa é certa: preciso abandonar essa forma derrotista e resignada de defender minha inércia em relação às escolhas periféricas: "no fundo eu devo ter feito a coisa certa, simplesmente não era pra mim", "se fosse, teria sido."
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Essa é, na verdade, uma maneira muito preguiçosa de pensar, com a qual eu já me habituei, "o que é teu tá guardado", "escute seu coração". Não sei, sabe. Não confio mais no meu coração, e acho que aqui tenho realmente um grande problema. Eu acho que deveria ouvi-lo, mas não confio nele. Como tornar um coração confiável?
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Grande coisa saber o que precisa ser feito, quero saber da onde se tira FORÇA pra fazer, e nisso o cérebro não ajuda, pra isso é preciso confiar no coração. Como faz?
Viu? Não adianta, tudo sempre acaba no cérebro, e é isso que me mata.
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