Dienstag, August 12, 2008

jogando arroz pela janela

É engraçado como as sombras da cozinha mudam e dançam e continuam confusas apesar de tudo estar mais claro agora aqui dentro. Eu jogo arroz pela janela para me livrar dos grãos que entopem o ralo da pia de lavar louça. Isso não é relevante, é apenas um começo e bobinho como todos os começos. No último mês conheci mais pessoas e entupi mais veias. [Isso é um meio.] No último mês aprendi a desamar e a querer bem. No último mês não lembro de ter lido ou escrito. [Isso é um fim.] Algumas coisas não estão nos livros e outras não podem ser contadas. Pensando bem, talvez todas as coisas estejam nos livros, mas é diferente. Estou falando de ficar sozinha sem sapatos no meio de uma rua desconhecida em um país estrangeiro. Estou falando de esquecer como se fala e de sentir o verdadeiro frio e a verdadeira fome. A solidão real e física. Estou falando do que não tem como falar e por isso, travo. Estou exorcizando e já nem sei sobre o que eu falava, só pra não perder o costume. Estou falando de não ter talento para falar, ou melhor, estou escrevendo sobre não ter o que falar. Cansei de falar. Meu maxilar dói. Minha mão de pegar a caneta treme e meus braços se movimentam involuntariamente num vai e vem de rodadas grátis. Estou falando daquela luz que vem de dentro do peito e pula no teclado; sem medos, sem projetos visionários ou pretensão vanguardista. Sem breguisse mas com amor. Com breguisse e sem preconceito. Sem sentido. Mas e daí? Não há nenhum conteúdo, é um vagão vazio, ou xícaras, ou bules ou bacias. Sem água, sem chá, sem chopp. Estou falando de paixão e desapego, dimensões que parecem tão distantes (e são), mas que apenas quando se encontram são capazes de nos fazer amar. Amar o inexistente, o vazio, o inexplicável. Amar não de verdade, pois a verdade inexiste e as opiniões nos sufocam; mas sim amar a si mesmo e a cor da plantinha na varanda. Amar a varanda, a vassoura, o balde que transborda lama em uma casa limpa. Amar alguém, claro. Amar qualquer coisa menos a própria confusão, confundir qualquer coisa menos o amor-próprio. E melancolizar pela vida esses conceitos inúteis, donos de nosso ser dilacerante. (OH!). Um tédio de Fernando Pessoa, um ônibus de Julio Cortázar; já não importa. Não sei fazer literatura. Não consigo afastar de meus pensamentos os meninos rindo de mim, mas agora eu também estou rindo; não por achar engraçado, mas o patético também tem seu poder sorrisal. Patética é a comédia das idades e os frutos que amadurecem podres e derrubados pela força do tempo. Patética é a falta de educação e a pseudo-intimidade criada por alguns seres humanos com intuito 'nós somos jovens, somos o exército do sol', queremos viver a letra das músicas mas só de mentirinha enquanto ela durar, tudo é permitido e lindo por duas semanas, mas tanto quanto descartável. Capitalistas-consumistas de sentimentos. Não sei se engraçado ou vomitante, por isso fico com o meio termo meia boca chamado sorriso. Um sorriso de obrigada, senhor, por me livrar dos males viciantes dos desejos sub-20. Um sorriso dos olhos e das rugas da testa. Um sorriso de quem chorou e sofreu e perdeu e ganhou recheio mais-mais. Um sorriso de fruto azedo e brilhante jovial não se compara a este fruto amadurecido e doce e discreto. Seja feio mas tenha a força. A generosidade não recompensa ninguém, o importante é ser forte. E se manter na árvore até o apodrecimento mais retardado possível. O importante é amadurecer preso aos galhos mais altos; contemplação plena do subúrbio sentimental. É preciso estar extremamente perto dos céus e totalmente desapegado de todos eles. Mas não sei, ainda não sei de nada; só que no próximo verão quero pegar um europeu. That's all. Fodam-se as reflezões ezistenziais, tudo sempre acaba em sexo e futilidade.

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