Samstag, Juni 07, 2008

Gummo Pride

Assisti ontem Simple Men (1992) e Flirt (1995), do Hal Hartlay; seguem a linha contrária de filmes como Kids (1995) ou Gummo (1997) - adoro um pastelão rosa bebê com azul e jovens rebeldes-sem-causa, ou melhor, rebeldes-pelo-glamour. - mas Hal Hartley parece preferir bofetadas vigorosas - e ao mesmo tempo fraternas (pois só quem ama bate, afinal) - e dancinhas inusitadas. Destaque também para as questões existencialistas em bocas de pedreiros, policiais americanos, figuras que acham a virgem Maria muito cool, freiras fumantes e outros. Uma das afirmações filosóficas feita por um extravagante personagem do diretor (um criminoso com carência de afeto maternal), e que é como um jargão de Simple Man, é a de que não existe felicidade, a unica coisa que existe são desejos e problemas, "e quando temos um desejo, temos problemas, e quando temos um problema, não temos mais desejo". A estética é interessante, um tanto Sonic Youth, apesar de os videoclipes do Sonic Youth serem muito mais vanguarda, na minha singela opinião, em questões cinematográficas, do que esses dois filmes de Hal Hartley, em termos de composição plástica (decoração, fotografia, figurino), ali pelo fim dos anos 80 e início dos 90 (destaque para o jogo tosco de espelhos em Tunic. Aliás, este videoclipe inteiro é pura trash-arte da melhor qualidade). Mas, falando agora mais especificamente de Simple Men, o fato é que a tentativa de Hal Hartley, em geral, na minha opinião, fracassa. O estilo do diretor parece muito com o de John Cassavettes em A Woman Under Influence (1974); aquele humor negro arrastado, denso - um cinema, eu diria, para "sentir e não entender, entender e não sentir" -nas palavras de Mário de Andrade, sobre a literatura modernista brasileira. Mas gostei de Simple Man, no qual o diretor consegue se fazer entender sem maiores esforços intelectuais por um espaço maior de tempo e manter o humor por meio, por exemplo, das constantes bofetadas, digamos assim, "chiclete". As repetição ao longo do filme de takes de violência semi-gratuita (pessoas se esbofeteando por motivos torpes e a exaltação, por meio de diálogos, da contaminação da 'elevação do fútil' ao status de 'problema') não passam de uma tentativa de fazer comédia forçada, empurrada com um caminhão, quase. Ora, e o que é isso se não Tarantino ou, sei lá, qualquer outro pastelão? Como eu disse, Simple Man talvez se salve, mas eu ainda prefiro a linha de adolescentes problemáticos escutando rock'n'roll.