Tenho um outono dentro de mim, nesses dias Neil Young na virtola, encontrado em meio ao pó dos discos esquecidos, mas que não encontro, procurando o meu amor. Sou sozinha agora, e estou única. Estou achada em folhas amarelas de árvores vivas como veias de máquinas-corpos em composição; nesses dias de tortas e empadas sobre a mesa na toalha de estampa florida, sentada ao pé da janela escureço junto à noite que chega abraçando um sol de céu laranja. Nesses dias de achar sem perder, sou um walk-talk nas brumas de uma cidade futurística, procurando meu amor entre as folhagens molhadas de refrigerante; sou onírica em tempos de levantar tijolos e braçal em épocas de piquenique no parque. E lá longe vou guardando o mais próximo de mim, ou finjo, e me engasgo em melodias de espelho, te procurando em olhos de vidro sem cor. Me perco em ouvidos de cera pelo caminho de terra-sonho. A terra é árida como a perseguição implacável da cidade que procura o rio-desperto. E engole todas as águas. E se enfurece sem pudores nem motocicletas, apenas a garganta sedenta de uma louca paranóica que busca a felicidade em cruzeiros tropicais. Tenho um verão dentro de mim, nesses dias de calor-digestivo-estômago, que me incendeiam a aldeia de mortos guardada a três chaves no meu corpo; eu as chamo inverno, primavera e outono, minhas amiguinhas-depósito das tardes sem sol de um dezembro negro. Mas chega de imagens, chega de digressões e artifícios. Não me levem a ruim, estou apenas procurando um pedacinho de mim, quem sabe perdido nessas vilas que entrevejo nos cartões postais da minha natureza inconsciente; e me respondo: I don't know, Dr. Young. We never Know. E os velhos também não.
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