Mittwoch, November 29, 2006

Recomendo que você conheça seu vizinho.

Meu vizinho, um cara clássico. Lia livros em alemão encapados com folhas de revista no ônibus e nos dias de chuva saía de casa com uma touquinha cirúrgica cobrindo seus cabelos brancos e volumosos para os lados, numa mistura de Bozo com Einstein. Era formado em Física e Medicina pela UFRGS e auxiliava nas pesquisas do Departamento de Física Nuclear da Universidade. Descobri isso há dois dias pela Zero Hora, e agora penso como o mundo é bizarro, mais bizarro do que sempre, tantos anos ali ao lado, tantas noites sozinha e ele ao lado, também. Solidão compartilhada é tão bonita mas, tá, talvez não seja tudo isso, só estou sensibilizada. Mas ele era tão bonito no seu estilo cabeção discreto que só falava com os vizinhos para presenteá-los com goiabas e juntar as bolas que as crianças chutavam para o seu pátio.
Mataram o meu vizinho, 3 dias e não consigo parar de pensar. Vejo as poças de sangue me debruçando no muro, as crianças também viram e perguntam "será que ele fez mal pra alguém?". Asfixiaram o velhinho com uma sacola plástica e deram pauladas em seu pescoço para depois arrastar o corpo até o pátio, onde o cobriram com algumas folhas secas. Eu estava na sala tomando cervejas e assistindo "Factotum", não ouvi nada, nem o cachorro.
Eu sei que informações sobre crimes como esse não trazem nada de útil para os leitores, apenas fofoca e especulação. Quantos relatos também já não li desse tipo "a gente sempre acha que não é com a gente até acontecer por perto" e continuei achando que não era comigo. A gente sempre vai achar que não é, até que o jardim da nossa própria casa fica infectado por uma áurea estranha.
A violência urbana já um clichê, que merda.
Eu sei quem matou mas não vou escrever aqui, acho, inclusive, ainda bem, que não se trata de violência urbana e sim de violação espiritual do caráter. Algum escritor famoso disse que admirava 3 tipos de pessoa: o assassino, o padre e a puta. Não lembro a justificativa da opinião mas lembro que achava o auge do pensamento intelectual aprimorado. Agora penso que o assassino está fora do círculo. Não o admiro mais. Não é como nos filmes, sei que descobri tarde, mas nunca tinha conhecido um ao vivo. Talvez minha idéia de assassino fosse aquela de um destruidor destemido e amoral, e é impossível negar que existe sim uma áurea sedutora ao redor dos crimes, principalmente os que envolvem rituais satânicos. São crimes sem utilidade pública mas no entanto são os mais chocantes. Qual o motivo de nos interessarmos por conflitos que dizemm respeito somente aos envolvidos? Há mais ou menos uma semana atrás um casal se suicidou num motel e, curiosamente, a menina de 14 anos que supostamente se matou por causa da opinião dos pais a respeito do seu namoro com o músico de 30 anos, morava na rua atrás da minha. Ambos os crimes são daquele único tipo que podemos dizer "o raio não vai cair no mesmo lugar", pois não é como um crime em uma rua específica, que depois podemos evitar de passar ou morar, é um crime com PESSOAS específicas, e que já morreram. Mesmo sabendo da equivalência entre estes crimes e fofocas da Contigo, já acessei a página policial da Zero Hora por diversas vezes na mesma semana. E não consigo parar de me sentir péssima, por isso peço licença para utilizar este espaço público como terapia, não que os outros textos também não sejam mas, hoje, pela primeria vez, senti vontade de falar assim, claramente, sobre fatos reais e apelativos. Me desculpem, sei que isso é péssimo, mas eu precisava compartilhar, dizem que terapia em grupo é muito eficaz, imagina então terapia em rede mundial.

Sonntag, November 26, 2006

fatos fantasmas

"The leaders of men born out of your frustration."
(Joy Divison, 'leaders of men')

Ghost World+++ No estilo Tenembauns, o filme traz figurino cool e trilha sonora soando como lado B da MTV. Ainda assim vale a pena pela fina ironia de cenas como a de uma menina trabalhadora do interior que recém adquiriu sua casa própria mostrando à outra menina não trabalhadora do interior uma tábua de passar que pula de dentro do guarda-roupa e despula de volta; "Não é sensacional?" diz a loirinha magricela de peitos grandes e casaco cor de rosa à outra menina com quilos a mais de botinas e meia arrastão pretas.

Factotum++ No estilo adaptações que não dão certo o filme só prova que Chinaski, na tela ou no papel, não passa de uma soma interminável de empregos bomba, mulheres que conhece no bar e acaba dividindo teto e furor sexual de meia-idade, violências de fim de noite e visitas à corridas de cavalos.

Ainda assim, Bukowski é herói de uma geração, como Seymour de Ghost World era para a menina de botinas e meia arrastão pretas. Seymour era um colecionador de discos de Blues fracassado e Chinaski foi de empregado de fábrica de enlatados a açougueiro, ainda assim ambos tinham grana para beber e viver em casas cools e aconchegantes.
Ser um fracasso em cidades americanas parece sedutor.

Samstag, November 25, 2006

Pais e Filhos (saravá Renato Russo!)

Dando uma olhada ontem numa revista "Pais e Filhos" de 70 e poucos descobri que os filhos caçulas (segundo a concepação da época) são menos bondosos que os mais velhos, pois esses acompanham a gestação da mãe e podem compartilhar o sentimento de "cuidado" que a mãe tem com o irmão mais novo, segundo a revista, isso asseguraria a "bondade" da criança. Outra coisa interessante era a colcha Paxi Concilix, que tinha ondas tão bonitas no bordado que você sentiria vontade dormir com ela, mesmo ela não sendo feita para dormir (sim, a propaganda dizia bem isso), mas o anúncio mais hilário era o "Prove que você confia na sua mulher, abra uma conta conjunta", e logo depois eram indicadas as vantagens da conta conjunta, como por exemplo o fato de que depois dela "sua esposa poderá pagar ela mesmo, direto o banco, contas de água e telefone".
As revistas sobre relacionamentos familiares pareciam fazer mais sucesso nesta época, não sei qual o motivo, mas me parece que havia uma tendência de busca por doutrinas e ensinamentos; "como passar uma camisa de homem" (não decorei, eram mais de 5 passos), "como cozinhar sem fazer sujeira" (pegue um daqueles sacos de supermercado e coloque dentro de uma panela, depois descasque os alimentos e coloque a cascas na panela ensacada, depois é só colocar o saco no lixo, sem maiores sujeiras). Havia títulos de reportagem sobre adolescentes precoces do tipo "elas estão aprendendo tudo, e agora?". Enfim, uma figura do que foi a consolidação da liberdade sexual junto com dicas sobre ferimentos com cacos de vidro e resenha do "novo disco dos Mutantes", diversão pura. A melhor fotografia era a de uma noiva vestida a caráter em cima de uma bicicleta no meio de uma estrada, a mina tinha uma cara total de desespero moldada por cabelos anos 70 e a reportagem era sobre as desilusões do casamento, com o subtítulo "relacionamentos que começam sob uma base falsa normalmente acabam sem explicação".

Donnerstag, November 23, 2006

reflexogênicas talking heads

Nasceram com as televisões ligadas e hoje lamentam com nostalgia o tempo que deixaram de agir por serem jovens num curto espaço de tempo utilizado para beber conselhos de bens sucedidos passageiros pedindo carona no futuro. Brotaram de suas barrigas flores nascentes da neve e do vento e de todas as palavras bonitas que as pessoas felizes conseguem dizer e de todas as fotografias delicadas de uma mente sensível assistindo ao Sílvio Santos. Bailando por um sonho me perdi na idéia do que tu poderias ser. Porta da esperança? Não existe em casos de distância intelectual que provoca saudades e ascos por não termos aproveitado bem o tempo de ser sincero e ao invés disso o que fizemos? Poeminhas de nostalgia e esperança; o reflexo pode ser uma cópia ou o pai do retorno ao cerne dos pensamento com fins de análise; a reflexão.
reflito, reflito, reflito kkkkkkkkkkkkkkkk pane.
Como pode o amor entre imagens virtuais? Como pode beber enquanto a fidelidade espera? Como pode aceitar enquanto o corpo nega e a mente consente? Como pode tantas perguntas clichês juntas?
Como posso continuar com isso e frequentar supermercados durante 15 minutos antes do fechamento? Como pode fechar se quer abrir? Vai abrir, já foi, voou. Não faz sentido, não faz sentido! Não contribui!
DESLIGA
FECHA
AMASSSA
se perdeu em delírios de mercosul;
Se eu pudesse me guardaria ao mais ébrio, tenro e doce pitoresco atrativo das imagens que faço de mim mesma; e me assustaria e me diria: Como posso, como posso, tão tarde ter percebido que tudo morrerá no google?

Dienstag, November 21, 2006

mickey e espelhos

"He made up the person he wanted to be and changed into a new personality. Even the greatest stars change themselves in the looking glass."
(Kraftwerk, "The Hall Of Mirrors")
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THRU THE LOOKING GLASS
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é nome de filme de Ingmar Bergman ("Através de um espelho", 1961), nome da continuação de Alice no País das Maravilhas ("Alice através do espelho", de Lewis Caroll;escritor e matemático que deu ao mundo a obra mais psicodélica da história fazendo de suas sentenças equações matemáticas e vice-versa) e nome relacionado também a um dos melhores epsódios de Mickey Mouse, inspirado, justamente, na obra de Caroll.
Atravessar um espelho é enxergar além da comunicação possível consigo mesmo ou transcender os limites do egocentrismo, como é o caso do protagonista do filme de Bergman (um escritor contemplando através da família seu fracasso como profissional e pai, num momento de insanidade da filha) que dá início à sua trilogia do silêncio("Através de um espelho", "Luz do Inverno" e "O Silêncio"), algo bem próximo do que fez Antonioni em sua trilogia da incomunicabilidade e pode ser classificado como tendência do "cinema de autor". A diferença entre Bergman e Antonioni neste quesito está, por exemplo, no talento do primeiro em suas filmagens de "Através de um espelho" durante o "lusco-fusco", iluminação natural que ocorre na transição do período diurno em direção à noite e que enfatiza a presença do termo "espelho" no título, pois tanto a luz quando a projeção são reflexos. A habilidade de Antonioni se concentra mais nos enquadramentos e nos jogos geométricos (interessante como as figuras matemáticas de alguma forma sempre se relacionam com a solidão contemplativa).
No desenho de Walt Disney fica bastante caracterizada a comtemporaniedade entre o autor e outros mestres como Dalí e Buñuel; a metáfora da contemplação está no surrealismo (objetos moralmente incorretos como cinzeiros e baralhos de carta ganham vida, dançam e se revoltam contra Mickey estabelecendo uma relação semelhante com a do homem/espelho). Mickey Mouse é com certeza o rei da animação, por este e outros epsódios em que encarna o problema existencial através da incorporação de personagens, como em "O Pequeno Alfaiate Valente" de 1938, baseado na obra dos irmãos Grimm. Mickey não é um personagem fechado em si mesmo e sim um ratinho covarde que precisa de personalidades alheias para encarar a si mesmo, e é o espelho mais animado do mundo, até hoje.

Sonntag, November 19, 2006

gebunden sein

estar preso; confinado às idéias?
A presunção é uma idéia de grandeza da condição pessoal. A índole é imbatível para as idéias/palavras alheias porém deduzível ao coração atento.
Nas mesas de cinzeiro e nas mesas dos ajoelhados-com-velas-das-igrejas grandes mágoas esmagadas revelam o caráter, esse conjunto de idéias confusas que temos de nós mesmos e no qual alguns carregam a ilusão de altruísmo, que na verdade é um excesso egocêntrico que não se suporta e explode em exageros que vem da necessidade de sentirem-se grandiosos; o altruísta é o a-favor-do-herói. O anti-herói ri de si mesmo enquanto o altruísta encarna o superboy que não cresceu para perceber a insuficiência dos grandes poderes mágicos perante às leis cruéis dos sentimentos mortais; o altruísta é um confuso.
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A confusão é uma massa indistinta de incapacidades e buracos estomacais; o estômago é o fundo, o buraco maior que se enche pelas culpas que entram pela boca. Convites negados são mesas de comida vazias. Nas mesas da igreja as senhoras enjoiadas com velas e rendas e promessas, obrigados. Na mesa de cinzeiros grandes mágoas esmagadas; e o coração entregue no fundo do copo, o homem bagaceiro no orelhão toma Belinha;

que desgraça maior do que a minha!
como sofre um homem bom!

---------------------------------------- ; sem palavras, silêncio, com elas: GRITOS> voz humana alta, aguda que revela não suportar, não endurecer, não germinar; grandes riscos dos que contradizem mas não explodem em gastrites nervosas. O grito é um clamor, um protesto e não uma profanação. O grito é o respeito e não a pena. E por isso morram mais ritalinas e mais rivotris-guys, que se alagam na gordura que vem do cansaço e da retenção de líquidos e não da cerveja-no-bar-com-amigos, ou em ambos; e que se quiserem, continuem, MAS QUE GRITEM para não sufocar o tempo que corre em silêncio, NO fun e NO alarmes de celular. Que continuem fingindo nos telefones e eméssenes; sabotando a confiança e a informação da vivência profana com mãozinhas desdedadas de carne e sabor caseiro, MAS QUE GRITEM! Que chorem, que berrem e que durmam, como bebês ruivos e homer simpson.

Mittwoch, November 15, 2006

Tajna

[dessangrar]:1. tirar o sangue 2. fig. debilitar, enfraquecer privando dos meios.
esvair-se, esgotar-se em sangue; perder o que é necessário para o seu sustento.

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O velho estava lá, num dos bancos da frente virado para o cobrador, como não enjoam, meu deus, como não enjoam quando parados e ao mesmo tempo de costas para o fluxo. O vermelho da rosa murcha no colo do velho, os olhos tristes. As ambulâncias correndo ao lado, dos olhos dele. O calor, o sangue; da cor da rosa; que ganhou a bonitona de todos os sorrisos para sua teta; do velho, assim que se encontraram, do outro lado da roleta. Desceram, atravessaram a rua. Tajna, a moça da recepção, viu e, atônita, apertou o botão. Subiu o portão eletrônico e eles entraram, o velho e a dona; da rosa. A pé é foda. Tajna alcançou a maquininha de débito; "paga na entrada". A tetuda com o cartão largou a rosa e apertou, sete dígitos; o dedo contra a maquininha; os olhos, do velho, contra o tempo. Os olhos, de Tajna, contra todos. Ganharam uma chave, a dona e o velho, enquanto Tajna disse, não dizendo, pra passar o próximo, e mais um parou tímido, apertando os dedos contra maquininha; ainda bem que agora só restam os apartamentos luxo sem banheira e secador de cabelo. O velho e a dona da flor, não sei. Ou os dois ou o 2? O meio é uma ilusão, um sempre precisa perder o que é necessário, para o sustento do outro. Tajna largou a maquininha no balcão, pegou a escova de cabelo, penteou os de baixo, atordoada? Quarto 115, chave reserva; correu, achou, a rosa no chão, do lado de fora. Gritou "serviço de quarto!" e girou a maçaneta, na outra mão, a escova; entrou; o velho e a bonitona na cama, ele por baixo e ela por cima; Tajna enfureceu a face e cravou a escova de cabelo no orifício traseiro da bonitona de meia idade. E então, só então, um velho reconhece sua filha? Talvez se ela usasse decotes, teria a visto antes.
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"O Cupim" filme de Carlos Manga de 1959 produzido pela lendária Atlântida Cinematográfica, mostra bem como corrói divertido este sentimento chamado ciúmes. A melhor cena da comédia é quando o mordomo defende a vitalidade que o ciúmes (cupim do amor) empresta à relação, ao que a patroa retruca "Como tu podes pensar isto? Não vê como eu e Tristão levamos uma vida tão boa sem ciúmes? Não vê como nos amamos, como nos beijamos e nos abraçamos quando ele retorna do trabalho?", e o mordomo responde "Vejo, madame, vejo. Vejo mas não me convenço".

Donnerstag, November 09, 2006

Lunaris

Da infância;
os jardins, os vestidos brancos leves roçando na grama e observados pelas bermudas xadrezes e bocas babando melado de pirulito; a bolsa vermelha da Mônica sendo roubada por uma precoce vaidosa de cachos enlaçados; os meus cabelos, roçando no presunto disposto na mesa de aniversário para a mão alcançar o negrinho. A foto: em escolas de luxo, crianças sempre blasé e lustrosas sem idéia da diferença entre carros pessoais e comboios urbanos.
Eu recebia cartas de amor e ao voltar da escola no carro de meu avô mostrava timidamente o envelope enfeitado com marcas de batom. Lesbianismo infantil? Não, era um "ele" o remetente, mas ditava as cartas para a governanta, não muito culta, mas que melhor sabia se expressar com palavras do que um garoto e ainda beijava os envelopes. Eu, de qualquer forma, não ligava; só corria em volta da escola tentando recuperar a bolsa vermelha da boneca, volta e meia vinha um, chamado João, pegava na minha mão e me levava para deitar na grama e cheirar a margarida olhando as nuvens por detrás dos galhos das árvores; todos os ambientes parecem tão grandes quando somos crianças; depois, quando lá voltamos, são sitiozinhos irrisórios.
Eu então deitava ao lado de João, enquanto os outros corriam, brincavam de ser polícia, fugitivo ou simplesmente dançarinos. "Ele" pedia à professora que contasse histórias de terror. João talvez soubesse que "ele" me amava, mas estava mais interesado em pegar na minha mão e sorrir bafos de Youplat, enquanto o outro me abordava na hora da saída e me entregava as benditas cartas com marcas de batom, as quais eu recolhia da mão de sua babá e o chamava para um local mais afastado do portão de saída; mostrava o buraco feito para abrigar o ar-condicionado, o qual ele observava atentamente e, só então, eu amassava a carta e enfiava entre duas grades que protegiam o buraco. Um dia ele chorou, e eu sorri. Na verdade, eu sorria sempre; e talvez tenham sido os primeiros sorrisos, assim, de dentro da vaidade mais arraigada.
É tarde, é tarde, é tarde já dizia o coelhinho.
Me convenço de que o ajudante da memória é o sonho; duas crianças vestidas com mantos vermelhos e coroas douradas correndo por uma floresta monocromaticamente verde em direção a um telefone antigo e redondo, também vermelho, sobre um banco de madeira em meio ao capim deserto. Ela atende, e uma voz do outro lado diz que o menino rei a fitando é um apaixonado. Ela sorri, como uma rainha.

Mittwoch, November 08, 2006

Fotografia é amor, ilustração é sexo.

O taxativo é irretorquível.
O irretorquível é aquele para o qual não há resposta. As ilustrações são taxativas, seguem a ordem do prazer instântaneo e de apelação ao orgulho esteta. Para o prazer nao há resposta. Foda-se. (ui)
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Die Elemente des Bildes vertreten im Bild die Gegenstände.
[os elementos da imagem substituem, na imagem, os objetos]
O objeto é tudo que se apresenta ao espírito, que se oferece ao pensamento; gramaticalmente, é o complemento verbal que designa o ser ou a coisa que sofre a ação expressa pelo verbo; ou seja, a ficção é uma expressão do sofrimento; um objeto imaginário existente graças à maldade intrínseca ao coração humano, aquela que determina o que vai acontecer ou não com as impressões apresentadas ao espírito. Não há como substituir a maldade, apenas os objetos.

Das logische Bild der tatsachen ist der Gedanke.
[a imagem lógica dos fatos é o pensamento]
O verbo é o pensamento? o objeto sofre a ação do pensamento e o pensamento precisa da forma para que seja devidamente estruturado e tenha uma imagem lógica (apresentação).

Die Sprache verkleidet den Gedanken
[a língua transfigura o pensamento]
A língua dá forma ao pensamento, substitui objetos por elementos de forma que os mesmos acalentem todo e qualquer objeto exatamente por serem o que os matemáticos chamam "cada uma das unidades do conjunto"; pau pra toda a obra.

Der Satz ist ein Bild der Wirklichkeit
[a frase é uma imagem da realidade]
Cada ciência representa sua realidade através de elementos que mudam de significado de acordo com a transfiguração da ordem de idéias a serem estudadas. Os químicos distribuem os elementos, entidade fundamental e comum de todas as variedades de uma mesma substância simples, em linhas e colunas, de forma a demonstrar a analogia entre os mesmos.

Der Satz zeigt die logische Form der Wirklichkeit
[a frase indica a forma lógica da realidade]
A analogia sempre indica solidariedade consigo mesmo e com o desejo de manter-se à sombra das revelações encerradas pela condução lógica das palavras.
==========> todas as em alemão são de Ludwig Wittgesntein, em homenagem ao qual, aparentemente, Thomas Bernhard escreveu o seu "O sobrinho de Wittgenstein"; mesmo Thomas Bernhard que escreveu "A força do Hábito", pitoresca obra sobre o triunfo da persistência contra a intuição.

Montag, November 06, 2006

Aquele Edgar Allan Poe era mesmo um sádico!

Gritos de dor e de prazer são iguais.
Eu aprendi isso ouvindo Smiths.
["Last night I dreamt that somebody loved me"]
A música começa com uns gritos, sempre imaginei pessoas sendo torturadas, depois pensei em trabalhadores braçais na Torre de Babel e, por fim, pensei em pessoas assistindo a um show de rock; gritando, felizes. Também pensei em uma super suruba. Minhas impressões não possuem nenhuma base teórica ou científica; mas acaba-se percebendo que dá tudo no mesmo: ciência, teoria, prazer, dor, shows de rock. Filmes, músicas, livros. No fim acho que só mesmo Caio Fernando Abreu importa. E que seja doce, e que nasçam mais ieves e joaquins. E que morram menos velhos, enquanto eu estou aqui, irritada com o barulho do idoso cortando a unha, até pereceber que são só os pingos do chuveiro, aqueles que sempre ficam .. . .. . . .. . . .
Toda a cultura é pingada, e sei que os "cultos" detestam generalizações e termos do tipo "sentido", "significado" ou "cultura", e sei que esses são os caras que sacam. Ainda assim não são os que vem de dentro; os que deitariam no cemitério pra olhar margaridas.
Nós somos uma generalização; nossa mente associa tudo com insignificâncias pessoais transformadas em grandes sofrimentos exatamente pela sua generalização; cada espécie possui não sei quantos mil anos de memória coletiva para poder evoluir (eu aprendi isso assistindo "Waking Life", mas a fonte tem o mesmo valor de uma mesa de bar), ou seja, evoluímos pelo inconsciente coletivo. Eu deveria ser mais específica já sabendo que vou ser descoberta depois, como mais uma macaquinha simpática que pela proliferação do culto ao automatismo selvagem evoluiu até o ponto possível dentro de um píres pingado?
Snoopy sabia das coisas e por isso não aprendeu a falar a língua dos homens. Não falava, mas escrevia: longas cartas para as namoradas, primos e amigos. Quem escreve precisa calar; literatura é pra ler na cama. Discordo, afinal preciso desligar a torneira, mas a torneira já foi desligada; são só os pingos.
Não é bom pingar nos outros mas por fim acontecerá o grande evento da velha frustração: os casais serão magos gnômicos e os solteiros, Lucys fragilizadas.
Não, eu não queria dizer nada com isso; são só os pingos. Da cabeça? Sangra? Sangra e quem sabe também não arde e quem sabe também não corrói e quem sabe também não estoura? Poucas coisas podem acontecer a uma cabeça, assim, por escrever, pelo que se tem escrito. A crise nos leva ao Charlie Brown; citações são uma forma de fugir de si mesmo e quem não sabe. Charlie Brown é coisa de gente infantil? E quem não sabe?
QUE AQUELE EDGAR ALLAN POE ERA MESMO UM SÁDICO?
Os mais velhos, esses sempre sabem das coisas, mesmo quando cortam as unhas ou não cortam a corda da pipa que suspende Charlie Brown de cabeça pra baixo em uma árvore. Você precisa deles para que te digam que, se você prefere o pôr do sol ao nascer do sol, está perdido; mesmo que com livros, filmes, dor, prazer e shows de rock.
[desculpem, mas esse final exigia um clima "teen"]

Freitag, November 03, 2006

Midnight Cowboy

Joe Buck saiu do Texas. Do you love me, Joe? Joe Buck foi à Nova York. You're the only one, Joe. Joe Buck conhece Dustin Hoffman, Joe Buck carrega uma mala com estampa de vaquinhas. You're so cult, Joe.
MIDNITE ao invés de MIDNIGHT, they're so cult.
["midnight cowboy", 1969.]
é muito mais um filme sobre dois rapazes (nem tão rapazes) decadentes (Dustin Hoffman/John Voight) rumo à morte do que um retrato da sociedade andarilha nova-iorquina. Tudo no filme remete à morte, desde as primeiras sequências (Joe matando/ressucitando as recordações do Texas - mesclando imagens da infância MORTA pela avó sedutora e flash-backs de relações sexuais) até a visita dos dois caubóis ao túmulo do pai do personagem de Dustin Hoffman, sem contar, é claro, aquilo que eu não vou contar(mas silêncio também é morte).
Um personagem começa onde o outro acaba (morte); a opulência estética e a ingenuidade de Joe Buck terminam onde começa a estética mutilada e a esperteza de Ratso(morte); o texas termina onde começa a metrópole lotada de sul-americanos (morte). A própria viagem é uma morte; um ambiente sempre substitui o outro não podendo o novo coexistir com as experiências do velho no mesmo tempo e espaço. Cada ambiente, para os michês e para os ladrões, é uma morte; precisa ser experimentado e encerrado. Um ambiente é um instante, e todo instante tem o falso status de único, ainda mais quando se chamam New York, Texas ou Califórnia; de qualquer forma, em qualquer lugar, o sonho americano dos zumbis nunca se concretizará, o que resta é transformá-lo em um bom lugar para morrer.