"He made up the person he wanted to be and changed into a new personality. Even the greatest stars change themselves in the looking glass."
(Kraftwerk, "The Hall Of Mirrors")
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THRU THE LOOKING GLASS
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é nome de filme de Ingmar Bergman ("Através de um espelho", 1961), nome da continuação de Alice no País das Maravilhas ("Alice através do espelho", de Lewis Caroll;escritor e matemático que deu ao mundo a obra mais psicodélica da história fazendo de suas sentenças equações matemáticas e vice-versa) e nome relacionado também a um dos melhores epsódios de Mickey Mouse, inspirado, justamente, na obra de Caroll.
Atravessar um espelho é enxergar além da comunicação possível consigo mesmo ou transcender os limites do egocentrismo, como é o caso do protagonista do filme de Bergman (um escritor contemplando através da família seu fracasso como profissional e pai, num momento de insanidade da filha) que dá início à sua trilogia do silêncio("Através de um espelho", "Luz do Inverno" e "O Silêncio"), algo bem próximo do que fez Antonioni em sua trilogia da incomunicabilidade e pode ser classificado como tendência do "cinema de autor". A diferença entre Bergman e Antonioni neste quesito está, por exemplo, no talento do primeiro em suas filmagens de "Através de um espelho" durante o "lusco-fusco", iluminação natural que ocorre na transição do período diurno em direção à noite e que enfatiza a presença do termo "espelho" no título, pois tanto a luz quando a projeção são reflexos. A habilidade de Antonioni se concentra mais nos enquadramentos e nos jogos geométricos (interessante como as figuras matemáticas de alguma forma sempre se relacionam com a solidão contemplativa).
No desenho de Walt Disney fica bastante caracterizada a comtemporaniedade entre o autor e outros mestres como Dalí e Buñuel; a metáfora da contemplação está no surrealismo (objetos moralmente incorretos como cinzeiros e baralhos de carta ganham vida, dançam e se revoltam contra Mickey estabelecendo uma relação semelhante com a do homem/espelho). Mickey Mouse é com certeza o rei da animação, por este e outros epsódios em que encarna o problema existencial através da incorporação de personagens, como em "O Pequeno Alfaiate Valente" de 1938, baseado na obra dos irmãos Grimm. Mickey não é um personagem fechado em si mesmo e sim um ratinho covarde que precisa de personalidades alheias para encarar a si mesmo, e é o espelho mais animado do mundo, até hoje.
2 Kommentare:
"lusco-fusco" erudito vira "crepúsculo"
o "estágio do espelho" é na teoria lacaniana a metáfora para a criação do Eu. "através do espelho", se entendido como "para além do espelho" - afinal a gente não fica no reflexo, mas passa por ele, e usa o refletir como uma porta para outras coisas, não como afirmação das mesmas -, pode ser uma extraordinária metáfora para uma ética mais interessante de nós mesmos - viver para além do "Eu sou assim", resguardar um tanto que ria de si próprio e fique feliz com o Eu que apanha, mas pode se deslocar um tanto.
o final do dia era a hora dos feiticeiros para o Castaneda. é quando as coisas estão mudando, e a luz que se vai (que se altera) nós dá outras possibilidades, como portais pra outros mundos. porque é nossa percepção que faz o mundo, e a visão por excelência a achar que a luz que reflete nas coisas as faz assim e pronto. e pra além da reflexão?
sentimentos.
"afinal a gente não fica no reflexo, mas passa por ele, e usa o refletir como uma porta para outras coisas, não como afirmação das mesmas"
eu chamaria isso de "reflexão"; atravessar o espelho, agora penso, deve ser isso.
muitíssimos agradecimentos.
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