Montag, August 27, 2007

Um gole de conhaque na garoa

derramei na tua jaqueta de couro, preta como a cinza dos nossos cigarros tarja vermelha. Sonhei sim com cores e couros. Você no meu caminho, eu entre você e aquela lembrança de videoclip em um café modesto de Buenos Aires. Era um videoclip do Beck, aquele que ele usa um chapéu de caubói. Eu não tenho alma. Minha pele arde com delírios de vingança sangrenta enquanto bebo um gole de conhaque na garoa


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Indo para um buraco qualquer do lugar onde vivo e onde me alimento desde o início dos meus dias, naquela primavera de nuvens brancas, naquele céu de flores chorando por um amor de pólen perdido em investimentos quem sabe audaciosos como uma planta carnívora. Indo, indo no caminho de um buraco tal qual este que lhes apresento em linhas desordenadas do meu coração chapado de aço derretido na manteiga com alho. Indo neste caminho percebo que tenho ao meu lado esse jovem rapaz de jaqueta James Dean em fase prata. Agarro meu pingente falso de azul, simbolizando liberdade em filmes de diretores russos com atrizes francesas. Prefiro então um filme com o Michael J. Fox e closes em bocas de americanas louras ao bebedor.

Indo neste caminho eu me dou conta de que o Michael J. Fox bem que se parece com aquela criança pela qual me apaixonei na quarta ou quinta série. Mas foda-se. Melhor isso que amor à queima roupa com mulheres usando brincos de coração e o rosto sangrando molho de tomate. Melhor isso de te ter quem sabe ao meu lado,ao alcance da minha boca nessa noite de garoa em que fui engolida sem sentir o doce do amor que sangra. Talvez sangue de chocolate quente. Talvez sangue de tintas Renner. Mas meu amor, não tenha medo. A ficção não dói; mas as tuas mãos, ah, as tuas mãos, me seduziram como um sonho impossível abanando ao amigo de infância. Mas o fascinante e desejado impossível já nasce fracassado.


Quero gritar teu nome, sei que não posso; mas poderia contar daquela manhã seguinte, sem garoa nem conhaque, comendo uma pizza de pé, na padaria da esquina do teu apartamento. Depois de olhar a cabeça da maior árvore da cidade na tua sacada. Depois de recolher minhas calcinhas e escovar os dentes. Pizza com Coca-Cola. Depois cigarro com mais Coca-Cola. E depois dar a volta na quadra e voltar pra tua porta, com a lata de refrigerante vazia, na qual joguei minha bituca de cigarro. A lata na minha mão tremendo a procura de uma lata de lixo e do número do teu apartamento. Então poderia te contar da minha cabeça na chuva ao lado do interfone enquanto tentava arrancar liquidamente um último gole de Coca-Cola. E poderia te contar que foi então que aconteceu o REAL Nojo para mim; quando senti o gosto amargo da bituca no fundo da lata.

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