Montag, August 13, 2007

minha Glória & eu

A ficção é um artifício dos loucos. A criação de mundos paralelos parece a estes mais funcional que o desabafo em ouvidos familiares, que se parecem mais com tribunais do que com travesseiros limpos e macios.

[A mãe de Glória costumava usar suas calcinhas, aos 9 anos a menina escrevia longas páginas de algo que se parecia com romance policial com pitadas de existencialismo.]

Amolar afaga a sêca da paixão.

As guerras internas aconteceram cedo para mim, parece que quanto mais cedo elas ocorrrem, mais difícil é livrar-se delas. Pensa-se depois que é uma infantilidade retardada ou uma juventude vencida. Pensa-se muito. Muito. Muito. Ouve-se música. Muita música. Na maioria das vezes as que dão vergonha mas consolam por se parcerem, nesse momento, morbidamente conosco. Qualquer nota, bossa nova. Coisas na veia e na tv. Ambas, melhor desconhecê-las.

[Glória desistiu de viver aos 12 anos.]

Desistir de viver é pior do que o suicídio físico, pois é o seu antagônico, e os dois nunca podem coexistir. Digo que desistir de viver é o suicídio da alma, e que não podem coexistir duas mortes em um único corpo. São pensamentos de alguém que tem mudanças bruscas de humor com a simples mudança da faixa do mp3. Brusco como de Lobão para Le Tigre. Sim, é um momento de breguice exacerbada. Como atravessar a rua escura e fria para apanhar o coletivo fedorento até o bar que fecha por último em algum bairro com casas antigas e mendigos na calçada. Desistir de viver saboreando um danoninho na esquina pelas sete da manhã. Ou tomando cervejas que esquentam enquanto te esperam voltar do banheiro. Não ter pressa é a fórmula do fracasso.

[Glória suicidou-se aos 23 anos, foi encontrada com uma caneta Bic cravada na garganta.]

O suicídio da alma pode ser o artifício dos gênios, mas ainda prefiro acreditar que os gênios são mais espertos e não como jovens quase velhos deitados em um sofá de brechó tomando chá com biscoitos; e mais interessantes que meia dúzia das fotos da nossa festa que ficaram lindas. Prefiro acreditar que os gênios estão hibernando nas cavernas mais escondidas da própria capacidade de tornarem-se inteligentes; uma ilusão tão facilmente contestável quanto o valor de uma banda como Cardigans, que satiriza a paixão cega dos jovens quase velhos se apegando às questões do coração para fugir da luta contra a própria covardia. Não quero ser uma pessoa de alma bem pequena remoendo pequenos problemas. Então mato minha alma. E enterro seus restos nas pessoas fracas para as quais deveria pedir piedade. Mas situação ainda pior é a daqueles cujas almas adoecem e não morrem jamais. Permanecem como um sonho louco de 10 segundos após a morte. Até morrerem.

1 Kommentar:

Anonym hat gesagt…

Nha!
`A criação de mundos paralelos parece a estes mais funcional que o desabafo em ouvidos familiares, que se parecem mais com tribunais do que com travesseiros limpos e macios´.
Isso foi muito digno. ótimo.
Com outras passagens chorei de rir, mas depois você pegou uma pá e cavou. Sabe, mete uma flor e rega e desencana que passa.
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De resto é engraçado, o inconsciente coletivo do Dylan deve estar por aí =)
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beijos.