"Há dias que são de amanhecer", ele pensou esmagando o último cigarro no cinzeiro de madeira que trazia o dizer "Buenos Aires" ao fundo; palavras curiosas para se estampar em tal recipiente mas, tudo bem, a vida é mesmo curiosa, e os hábitos também. Ali estava ele descontraindo com seus botons de plástico e se sentindo como numa música do Television; escutando a chuva e ouvindo algo mais, que com os pingos invadia o cinzeiro e fazia boiar os restos de nicotina prensados em pequenos cubos de papel. Restos. Vulgo "Bitucas". "Mutucas", pensou, também se chamam algumas moscas. Ele gostava de ser assim hiperbólico em seus pensamentos. Mas naquele dia ela iria embora, e isso ele não conseguia tirar da cabeça nem com divagações mornas de fim de tarde chuvoso. Peripécias desimportantes fazem realmente sentido frente a uma situação de desespero amoroso, percebe-se que elas realmente são desimportantes. Ele finalmente havia chegado a uma conclusão em sua tola vida, e era essa, a da desimportância dos acontecimentos bobos e divertidos. Naquele dia não, naquele dia nem Stallone Cobra o faria rir. Ela vai embora e ele não tem mais cigarros. Ele não tem mais cigarros e afinal de contas os cigarros não fazem diferença; no entanto, mesmo assim fazem falta, just like her. Ah, coisas de música. Ah, ele não queria mesmo falar sobre isso, não havia nada a ser falado a não ser boas-vindas solidão.
E a solidão só começa quando todo o resto terminou, quando se percebe o fim que há em tudo e a incapacidade que temos diante do tempo e do tudo. Esse tudo bobo de reflexões existenciais. Esse tudo que fica tão nada quando alguém vai embora, que morre um pouco a cada dia a saudade e mata um tanto a cada noite os começos. Há noites que são de amanhecer e dias que são de acordar. Ela havia proporcionado a ele todas as noites de amanhecer, mas depois roubou todos os dias de acordar. A menina dos cabelos verdes conduziu nosso protagonista a um sonho eterno de ilusões estreladas regadas a cerveja quente. E agora deixava só o frio; quem ela pensava que era? Ora, ele mesmo diria, num daqueles lapsos que duram segundos e mudam um TUDO inteiro; ele simplesmente deixou de se importar, talvez tenha achado um segundo cigarro no fundo do peito. Green is the color, mas também desbota.
Ele acendeu
e morreu.
E tudo começou de novo; o jardim de infância, as brincadeiras de roda, o chocolate derretido no fundo da caneca escrito 'mamãe'. Mamãe Natureza que abençoe nossas divinas perdas. Papai Tempo que se foda. Essa história de tempo não passa de decomposição física. Num mundo sem rugas, nada disso faria sentido. Mamãe Natureza é mãe solteira e eu sou bebê de proveta.
Não quero mais falar dele, é óbvio que ele sou eu e a ficção é o escudo dos fortes. Fortes precisam de escudo? Ah, me dá a minha fraqueza de volta, eu gosto dela. Ela que vai embora hoje e se cobre de verde pra afastar o negro. Ela que vai me deixar e eu serei então uma pessoa melhor, ela que não é de mentira. Ela que é mais quente que cerveja do Bambu's amanhecendo num copo plástico.
Adeus, gatinha. Somos todos feitos de um pano rasgado, e os buracos também protegem, mas um dia a gente tem que costurar pra não cair. Cair de muletas é tão mais difícil. E por isso eu vou reto e de ponta.
Desejo a todos que um dia descubram, como eu, a sagrada verddade contida no BOM Mergulho. Pois eu sou demais; sou roxa de frio no mar e vermelha de calor no sol. Eu sou de todas as cores, não preciso de verde. Compre um lápis de cor você também e vem pra cá. Vem com a tia brincar de bobagem e esquece o resto.
Viu? Ela já foi, passou. Pra dentro? Através? Tanto faz, desde que passe. A mutação é o fim de tudo que há e o início de tudo que será; será? Quem sabe, ganha um beijo negro.
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