- Crazyyyynesssss : Fullllllllllllllllllllll -
[Não me importo que eles me julguem incapaz, incapaz é uma palavra corriqueira e vulgar; só me importo quando escuto ela enrolar os cabelos em movimentos circulares repetidos entre o polegar e o indicativo; quero mais é que façam-se os nós, e que eles nos desfaçam.
o olho
mas
colho
o repolho
estragado no fundo do guarda-legumes vermelho com um trançado de buracos estratégico para permitir a respiração. A mesma respiração que suga o sangue de dentro do pulmão em momentos de música sensual. Eu sei que você me entende. Não me importo que eles me julguem qualquer coisa que seja, tenho certeza que um dia o príncipe do cavalo de branco vem me buscar e seremos felizes para sempre ao estilo Shrek. Embora eu preferisse o cavalo de fogo e a menina dos cabelos longos que já não lembro o nome. Os nomes próprios surgem e escapam como os momentos de relaxamento profundo.]
Lembro quando no colégio de freiras nos levavam para a capela, durante o período destinado aos ensinamentos religiosos; lembro do carpete verde e das almofadas, muitas almofadas. A professora ordenava que nos acomodássemos em uma posição confortável e, de preferência, que permanecêssemos deitados. Normalmente cada um usava uma almofada, mas o Leopoldo Neves sempre conservava ao seu lado uma segunda. Um dia ele escondeu meu estojo de lápis embaixo da sua segunda almofada. Eu fiquei feliz. Eu gostava dele, muitíssimo. Eu fechei os olhos. Então a professora ordenou que imaginássemos um lugar muito bonito, com árvores e arco-íris. Que imaginássemos que usávamos uma vestimenta branca. E tudo era muito fácil de imaginar, com Leopoldo Neves ao meu lado, escondendo meu estojo. Os nomes próprios sempre me pularam na cabeça, eles e suas curvas sinuosas que levam aos caminhos do passado. O passado é um termo recorrente e interessante por sua característica de refirir-se tanto a um acontecimento ocorrido quanto, coloquialmente, a um objeto fora de moda, velho e que não dá mais conta do recado. Eu escrevia recados, nessa época do colégio de freiras, sentada no fundo da sala de aula, sobre minha vista privilegiada para a nuca invadida de cabelos louros sedosos de Leopoldo Neves. Eu escrevia recados PARA o Leopoldo Neves, sobre os seus cabelos louros e sedosos. Mas na infância as pessoas (por costume) se importam com as opiniões das outras pessoas. Fala-se muito sobre a infância ser uma invenção. Filmes, livros, músicas, essas coisas.
[Fazem com que as pessoas deixem de se importar com os julgamentos alheios, fazem com que as pessoas abram o coração para as diversidades e suas faltas de respostas. Fazem com que as pessoas sintam saudades de seus Leopoldos.]
Eu não entregava meus recados ao Leopoldo, ao invés disso, guardava-os em um caderno que havia roubado de cima da mesa da professora certo dia quando ela os deixou, os cadernos, em cima de seu móvel escrituário, para que cada um recolhesse o seu, ao término do período de aula. Leopoldo, como sempre, saiu apressado, correndo pela escada enquanto seus cabelos louros e sedosos sacudiam ao vento de sua velocidade pueril. Eu fui a última a sair e, tal qual foi a minha surpresa, em cima da mesa de minha professora repousava esquecido o caderno de música de Leopoldo Neves. TAL QUAL foi também a minha adrenalida, guardando o caderno a golpes de tempestade dentro da mochila verde com motivos de letrinhas. Após o ônibus de volta e o almoço na casa de meus avós, o retirei de lá a portas fechadas em meu quarto de colcha e cortinas rosas. Depois de o beijar como uma mãe ao seus filho recém-nascido, o posicionei com a delicadeza de uma bailarina embaixo do travesseiro e me deitei sobre o travesseiro com um chocolate Laka em punhos. I’ll do my cying in the rain. Dormi sonhando que sonharia com Leopoldo Neves.
[I'll never let you seeThe way my broken heart is hurting meI've got my pride and I know how to hideAll my sorrow and painI'll do my crying in the rainIf I wait for stormy skiesYou won't know the rain from the tears in my eyesYou'll never know that I still love you soThough the heartaches remainI'll do my crying in the rainRaindrops falling from heavenCould never take away my miseryBut since we're not togetherI'll wait for stormy weatherTo hide these tears I hope you'll never see Someday when my crying's doneI'm gonna wear a smile and walk in the sunI may be a foolBut till then, darling, you'll never see me complainI'll do my craing in the rain ] *
Acordei 20 anos mais velha, depois de um coma causado por um fugaz ataque de epilepsia. Sabe-se de muitos casos nos quais os epiléticos demonstram sintomas de um tipo peculiar da doença, a “epilepsia do sono”. A epilepsia do sono tem origem psicológica como as alergias e ataca apenas quando o paciente encontra-se em profundo repouso. Só sobrevivem à ela sem seqüelas aqueles que estão em permanente estado de alerta, mesmo quando estão supostamente em situação de visível relaxamento. Nesse momento dito este texto ao meu melhor amigo, agora com 10 anos; para que ele conheça a sensação de morte antes que seja tarde e assustador demais. As pessoas podem perder os olhos, que não passam de órgãos internos como corações de galinha. Meu melhor amigo um dia perguntou quantos corações tinham uma galinha, e eu disse que a pergunta era “quantas galinhas cabem em um coração”. As pessoas podem perder os olhos, mas não perdem jamais a imbecilidade sentimental-estética da alma.
[Não me importo que eles me julguem incapaz, incapaz é uma palavra corriqueira e vulgar; só me importo quando escuto ela enrolar os cabelos em movimentos circulares repetidos entre o polegar e o indicativo; quero mais é que façam-se os nós, e que eles nos desfaçam.
o olho
mas
colho
o repolho
estragado no fundo do guarda-legumes vermelho com um trançado de buracos estratégico para permitir a respiração. A mesma respiração que suga o sangue de dentro do pulmão em momentos de música sensual. Eu sei que você me entende. Não me importo que eles me julguem qualquer coisa que seja, tenho certeza que um dia o príncipe do cavalo de branco vem me buscar e seremos felizes para sempre ao estilo Shrek. Embora eu preferisse o cavalo de fogo e a menina dos cabelos longos que já não lembro o nome. Os nomes próprios surgem e escapam como os momentos de relaxamento profundo.]
Lembro quando no colégio de freiras nos levavam para a capela, durante o período destinado aos ensinamentos religiosos; lembro do carpete verde e das almofadas, muitas almofadas. A professora ordenava que nos acomodássemos em uma posição confortável e, de preferência, que permanecêssemos deitados. Normalmente cada um usava uma almofada, mas o Leopoldo Neves sempre conservava ao seu lado uma segunda. Um dia ele escondeu meu estojo de lápis embaixo da sua segunda almofada. Eu fiquei feliz. Eu gostava dele, muitíssimo. Eu fechei os olhos. Então a professora ordenou que imaginássemos um lugar muito bonito, com árvores e arco-íris. Que imaginássemos que usávamos uma vestimenta branca. E tudo era muito fácil de imaginar, com Leopoldo Neves ao meu lado, escondendo meu estojo. Os nomes próprios sempre me pularam na cabeça, eles e suas curvas sinuosas que levam aos caminhos do passado. O passado é um termo recorrente e interessante por sua característica de refirir-se tanto a um acontecimento ocorrido quanto, coloquialmente, a um objeto fora de moda, velho e que não dá mais conta do recado. Eu escrevia recados, nessa época do colégio de freiras, sentada no fundo da sala de aula, sobre minha vista privilegiada para a nuca invadida de cabelos louros sedosos de Leopoldo Neves. Eu escrevia recados PARA o Leopoldo Neves, sobre os seus cabelos louros e sedosos. Mas na infância as pessoas (por costume) se importam com as opiniões das outras pessoas. Fala-se muito sobre a infância ser uma invenção. Filmes, livros, músicas, essas coisas.
[Fazem com que as pessoas deixem de se importar com os julgamentos alheios, fazem com que as pessoas abram o coração para as diversidades e suas faltas de respostas. Fazem com que as pessoas sintam saudades de seus Leopoldos.]
Eu não entregava meus recados ao Leopoldo, ao invés disso, guardava-os em um caderno que havia roubado de cima da mesa da professora certo dia quando ela os deixou, os cadernos, em cima de seu móvel escrituário, para que cada um recolhesse o seu, ao término do período de aula. Leopoldo, como sempre, saiu apressado, correndo pela escada enquanto seus cabelos louros e sedosos sacudiam ao vento de sua velocidade pueril. Eu fui a última a sair e, tal qual foi a minha surpresa, em cima da mesa de minha professora repousava esquecido o caderno de música de Leopoldo Neves. TAL QUAL foi também a minha adrenalida, guardando o caderno a golpes de tempestade dentro da mochila verde com motivos de letrinhas. Após o ônibus de volta e o almoço na casa de meus avós, o retirei de lá a portas fechadas em meu quarto de colcha e cortinas rosas. Depois de o beijar como uma mãe ao seus filho recém-nascido, o posicionei com a delicadeza de uma bailarina embaixo do travesseiro e me deitei sobre o travesseiro com um chocolate Laka em punhos. I’ll do my cying in the rain. Dormi sonhando que sonharia com Leopoldo Neves.
[I'll never let you seeThe way my broken heart is hurting meI've got my pride and I know how to hideAll my sorrow and painI'll do my crying in the rainIf I wait for stormy skiesYou won't know the rain from the tears in my eyesYou'll never know that I still love you soThough the heartaches remainI'll do my crying in the rainRaindrops falling from heavenCould never take away my miseryBut since we're not togetherI'll wait for stormy weatherTo hide these tears I hope you'll never see Someday when my crying's doneI'm gonna wear a smile and walk in the sunI may be a foolBut till then, darling, you'll never see me complainI'll do my craing in the rain ] *
Acordei 20 anos mais velha, depois de um coma causado por um fugaz ataque de epilepsia. Sabe-se de muitos casos nos quais os epiléticos demonstram sintomas de um tipo peculiar da doença, a “epilepsia do sono”. A epilepsia do sono tem origem psicológica como as alergias e ataca apenas quando o paciente encontra-se em profundo repouso. Só sobrevivem à ela sem seqüelas aqueles que estão em permanente estado de alerta, mesmo quando estão supostamente em situação de visível relaxamento. Nesse momento dito este texto ao meu melhor amigo, agora com 10 anos; para que ele conheça a sensação de morte antes que seja tarde e assustador demais. As pessoas podem perder os olhos, que não passam de órgãos internos como corações de galinha. Meu melhor amigo um dia perguntou quantos corações tinham uma galinha, e eu disse que a pergunta era “quantas galinhas cabem em um coração”. As pessoas podem perder os olhos, mas não perdem jamais a imbecilidade sentimental-estética da alma.
* banda A-Ha
5 Kommentare:
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Isso são olhos arregalados e a boca bem embaixo.Digo.
Título "bocão aberto".
Comentário: foda (refere-se ao belo texto. Belíssimo. Lindo).
Um melzinho pra sua doçura. Nice one.
A imbecilidade que nos irrita é a mesma que nos enternece.
E estética-sentimental é só um nome para o que não explicamos... e dói.
Ê Pagu Ê
dói porque é bom de fazer doer
(Incrível Gabriela; amo teus textos nada óbvios, tua eloqüência ferina, ácida e sutil. Sempre uma surpresa.)
Muito interessante... no teu colégio de freiras também levavam vocês para uma sala com almofadas? No meu colégio de freiras, era uma sala de carpete e paredes laranjas, almofadas vermelhas, laranjas e amarelas; uma cortina amarela. Não pode ser mera coincidência. Nunca soube de outra escola possuir outra sala com almofadas, e agora, descubro isso, uma outra, também de freiras. Tudo deve fazer parte de um plano. Um grande plano. Baseado numa estratégia sutil, o budismo disfarçado. As freiras são anti-cristãs, conduzem uma revolução budista! Por isso saímos ateus desses colégios! Agora entendo! Como fico feliz, por ter descoberto uma explicação racional para as almofadas da sala laranja.
minha pergunta seria:
"quantos corações de galinha cabem num espeto?"
e eu mesmo, mais imbecil, retrucaria:
"quantos espetos suporta um coração de galinha?"
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