Montag, April 16, 2007

o tesouro dos empregados

Ele quis dominá-la, o que lhe custou muito caro. Tenho certeza de que nenhuma mulher tornará a defender-se assim.

Vendo que ele não desistiria, a donzela ergueu-se em um salto. “Não deveis amassar assim minha camisa branca!”, exclamou a bela jovem. “Vosso comportamento é vulgar, por isso pagareis claro! Hei de mostrar-vos!” Ela prendeu o corajoso guerreiro em seus braços e tentou amarrá-lo como tinha feito com o rei, para que finalmente tivesse conforto em seu leito; a mulher vingava-se terrivelmente dele por ter amassado sua camisa. De que servia a Siegfried sua grande força? Ela mostrou ao cavaleiro que seu poder era maior, carregando-o vigorosamente e prensando-o entre a parede e uma arca.

(Anônimo. “O Canto dos Nibelungos”. Editora Martins Fontes, 1993, página 106.)



Da janela o homem percebe que cavalos correm com a elegância de uma ginasta na televisão. O campo está agora amarelo como nos filmes mudos; criar falsidades é tão bobo quanto necessário. “Não deixes que o diálogo te corrompa” disse a mulher ao homem, “É a falta dele que me corrompe”, explicou o homem esmagando o nariz contra o vidro empoeirado da janela, “meu nariz só dói quando está em repouso”, continuou o homem, “eu sou o meu nariz. Só há nariz em minha vida, esse corpo mole com buracos isolados. Este sou eu. Não vejo, não escuto, não toco, não falo; apenas sinto”

.

A mulher está deitada e em pé; a posição vertical não indica um estado de equilíbrio; por dentro dos pensamentos esfarelados a mulher cai. Ao invés de levantá-la o homem senta-se e acende um cigarro. Observa os trajes cor de vinho da companheira de escritório Porcos & Co. e deseja ter uma doença contagiosa. A mulher está caída, o homem levanta e vai até o micro computador aéreo; [o homem não voa, mas também não cai. A mulher não sabe o que faz, enquanto embala a culpa em um berço ornamentado de laços dourados.]
O homem não tem laços mas gosta de cabelos dourados. Os cabelos da mulher são cor de vinho; o homem não gosta de excentricidades e, no entanto, ali está ele trabalhando com árdua dedicação na fábrica clandestina de xampu de rosas. A junção do elemento mulher caída/homem observando gera um conflito de banalidades. Assim como as banalidades, este texto não tem um final; as banalidades são como um esquema líquido, um afogamento eterno em uma piscina de mil litros.

1 Kommentar:

Cela hat gesagt…

Vou comprar esse livro, gostei do trecho.