Em alemão, egoísmo. "Selbst"; próprio. "Sucht"; vício. O vício de si próprio. Holden Caufield é um egoísta; um egoísta rejeitado pela infantilidade, a sua e a do público leitor. "O apanhador no campo de centeio" é o melhor livro infanto-juvenil já escrito; mas apenas com valor de rito de passagem; valor literário de iniciação: comunhão primária. O erro está em comparar Salinger com autores experimentados nos assuntos adultos, enigmáticos, fantásticos e tantos outros áticos; há de ver se a análise está contextualizada; o apanhador não funciona fora de campo delimitado. O apanhador precisa de limite geográfico, das criancinhas e do desespero; o apanhador precisa da inocência desvencilhada da capacidade de encorajar-se. Salinger não é nem quer ser Philip Roth e sua temática sexual evoluída aos critérios da classe pensante e acadêmica, Salinger quer falar aos ouvidos desprevinidos, verdes, cansados da beleza compartilhada. Salinger não é Pessoa de palavras requintadas, não é Welsh de vícios mundanos existenciais. Salinger é amigo imaginário, maridos suicidas, relações incestuosas, solidões iniciais de um futuro consumidor de Prozac. Holden é o garoto tarado da praia dos contos de Sérgio Faraco;é um adolescente BUSCANDO; nos bares chiques com piano, com putas em hotéis de classe C, nos lagos congelados, na negação do romantismo inerente à sua geração. Holden é ídolo dos 12 anos; é o retrato do surgimento do egoísmo na vida humana; a passagem da extrema necessidade dos pais à necessidade de individualismo e negação da dependência. A expulsão do colégio é sua expulsão da sociedade e dele mesmo, da idéia dele mesmo que tinha até então. Como "Os dois perdidos em uma noite Suja" de Plínio Marcos, Holden é um perdido nos confins do luxo em calçadas iluminadas e lanchonetes 24 horas; de taxistas inteligentes e prostitutas meigas. A fartura é a premissa e o contraste do egoísmo (premissa como causa-objetivo e contraste em relação à abundância do coração altruísta); é lustral, como a água sagrada dos antigos, batiza. O egoísta não abre mão de suas regalias, é um comodista; o egoísta aventureiro, aquele que não tem meio certo de vida, que gosta de ações temerárias e surpresas, este é o apanha-moscas. O verdadeiro encontro com o egoísmo só ocorre após a porta bater fechando os sonhos pueris mas deixando o eco do giro da maçaneta. A adolescência é a maçaneta, e maçanetas precisam de buracos inferiores, receptores daquilo que abre a intimidade que não se desencerra apenas com a torção da parte superior.
3 Kommentare:
ich bin für dich geöffnet. sehr gut! :-*
Autores que não li, situações que já vivi. Gostei muito do ponto de vista. Mas não posso deixar de dizer, que o egoísmo é condição fundamental para sobrevivência. E ser mais egoista ou menos egoísta, não tem nada a ver com ser ou não ser maduro.
(perdoa-me se não entendi o que tu quis dizer)
Quebrando tudo!!!!
Bah, que texto fluente...
Loucanalogia ;]
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