Mittwoch, Dezember 27, 2006

miojo de morango

O sentimento que tenho em relação a David Foster Wallace se compararia a um miojo de morango. É tão nojento e irritante (apenas a idéia da existência de um miojo de morango) que sinto cócegas. Cócegas são semi-orgasmos, mas incomodam. Incomodam e fazem rir; mas agora não consigo rir. O cheiro de carlton e cerveja é como um miojo de morango, a mistura do sabor e do nojo, e o nojo é um luto, um trabalho intrapsíquico de elaboração da perda de um objeto amado externo. A perda da razão, a vitória dos DESEJOS. Percorrem meu corpo, sujam minha roupa, pedem um picadinho no bar maroto do centro pelas duas da manhã. Desejos fedem; desejos não se realizam, quando se realizam, são felicidade. Felicidade é ruim, felicidade é contentamento, abnegação, busca encerrada. DESEJOS comandam. David Foster Wallace é puro desejo; desejo de chocar, de incomodar, desejo de não se realizar e continuar sempre travando como um mouse sujo de cabelos e restos de unhas. David Foster Wallace é um grito no ar, perdido, sem fim, sem comunicação, puro LIBERTAR. O LIBERTAR não tem fim, a liberdade não pode nunca alacançar um objetivo, a liberdade é o desejo de estar solto de todas as amarras e as amarras são justamente a necessidade de LIGAÇÃO; a ligação COMPÕE, estabelece, dá vida a novos compostos, químicos, gramaticais; seja o que for, sempre faltam. Faltar, perder, emburrar; regras de uma vida sem escolha. É preciso desembaraço mas, normalmente, a liberdade é como uma licença.

[Ter liberdade é ter permissão ou uma maneira de agir com audácia.]


A FESTA

No dia da festa, pela primeira vez em cinco anos, ele dormiu na posição de um homem infiel. Peito pra cima, braços cruzados em cima do peito; significa que ele até quer ser fiel, mas não consegue. Peito pra cima, braços cruzados, mãos segurando a cabeça, significa que ele é um infiel assumido; um machão orgulhoso de seus culhões fedidos a baixos critérios. Barriga pra baixo, corpo voltado ao colchão; ele quer sexo.


Três, quatro, cinco carreiras; correrias, adaptadores de MP3, danças caretas e frenéticas; só nós dois no salão. Uma criança dormia. A outra, de olheiras fundas, jogava o video-game do papai-noel. O pai das crianças, anfitrião da festa, constrangido, não sabia de adaptadores de MP3, não sabia das crianças, mas sabia das sete, oito, nove, dez, onze carreiras. Constrangido, no banheiro. Constrangido, e vermelho. Constrangido, e malvado. Egoísta, pérfido, só queria compartilhar. Treze, quatorze, quinze carreiras. Ele, o meu amor, no dia da festa, constrangido, mas de constrangimentos bonitos, completos e partidos. Partidos pela necessidade constrangida de compartilhar, de não deixar o pai das crianças que ele, meu amor, amava, ali, sozinho, pérfido, dezoito, dezenove carreiras. Naquele dia da festa ele compartilhou de toda imundíce que seu constrangimento até então o havia impedido de compactuar mas, naquele dia da festa, vendo o pai, assim, sozinho, fodendo com todos, teve que foder também. E dormiu, segundo algum programa de televisão que as donas de casa assistem pela manhã depois que as crianças acordam e enquanto esquentam o leite no microondas, como um homem infiel. E a festa acabou na garagem disfarçada de quarto, com goteiras ao lado da cama e meu amor vomitando o peso de um caráter morto. E o desenho da criança, que dormia ou jogava (ninguém mais sabia) ficou ali, escorregou do imã da geladeira que ficava na garagem gelando as últimas cervejas enquanto eu fumava e pensava nele (o desenho) parado na poça da goteira, submerso. Olhei bem pra ele, uma festa de lápis de cêra que compunha um castelo, afogado. E ele, meu amor, meu anjo azul, entregue ao sono dos infiéis.

Compartilhar imundícies é abdicar da liberdade dos princípios acorrentados.

11 Kommentare:

pig hat gesagt…

pois, escreva mais vezes embriagada :]

em desconstrução hat gesagt…

"...água que despenca dos olhos em gotas suicidas - dedo no fundo da ferida que mergulha na carne; fotografa o que abafo - se não me vêem, ainda assim (re)existo, essa fase de lagarta passa."

Anonym hat gesagt…

espirros são quase orgasmos.

Anonym hat gesagt…

"As grandes épocas de nossa vida são aquelas em que temos a coragem de considerar o que é mau em nós como aquilo que temos de melhor"

meu amigo Fred
(Nietzsche)

Guga Schultze hat gesagt…

Belo texto... mas desperta dúvidas cruéis. O infiel explícito em sua posição de sono. O egoísta que compartilha. As crianças mudas. Frases belas e enigmáticas. E... quem é mesmo David Foster Wallace?

Anonym hat gesagt…

tu é a melhor.

Anonym hat gesagt…

Eu não faço a menor idéia de quem seja este tal David Foster Wallace. Mas tenho a plena certeza de que tu és uma escritora de verdade. De verdades.

em desconstrução hat gesagt…

Ainda miojo de morango?
(e sou eu ali no Fred)

Anonym hat gesagt…

Escarrada na parede.
Lembrei-me de velhas histórias com a primeira namorada, das torturas sádicas que eu matutava quando era um merda 12anesco e senti o cheiro de alguma beleza nesse macarrão quase estragado (ou nessa masturbação). A libertação é fedorenta e medonha e esse texto puro escroto. Não no pejorativo.
A sensação que deu no fim é de uma suja trepada de bêbados... e como é bom.

Daniel Weinmann hat gesagt…

Compartilhar imundícies é o tal miojo de morango, pra mim. Com cócegas e tudo, talvez.
O wikipedia diz que o DFW é assim: http://en.wikipedia.org/wiki/David_Foster_Wallace (não conheço tb)

Achei teu blog "pérfido", mas gostei do que li, embora sóbrio (eu)...

beijos,
Daniel

Anonym hat gesagt…

Reli o post e achei mais foda ainda. tu tem algum livro do David Foster Wallace? Eu nunca li nada mas queria muito ler.