Logo ali embaixo tem um post (apaixonado) sobre David Foster Wallace, um escritor contemporâneo cheio de experimentos na linguagem, no qual o maior mérito reside em fazer os olhos travarem, eu diria. É algo como um mouse sujo, como eu disse antes; irritante, mas de certa forma sedutor, pois a todo custo precisamos fazê-lo funcionar. Depois de ler Ian McEwan percebo que eu realmente tinha essa necessidade de que David Foster Wallace funcionasse comigo e que de alguma forma eu fiz com que ele funcionasse; odiei tanto que gostei. Mas o Ian McEwan, ele não é um mouse travado, ele é uma janela de casa mal assombrada aberta para o gramado mais verde do vizinho. Veja bem, falo de sensações, pois são elas as únicas lembranças reais que possuo.
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A sensação que tive ao ler Ian McEwan foi _________________________
travo. Mas não com um mouse sujo, travo com a vontade de que o tempo congele legitimando um momento único e duradouro na memória, essa entidade enigmática que guarda com mais vigor aquelas lembranças que em tempo "real" duraram 5 minutos mas, em tempo EXPERIMENTADO, duraram duas, três, quatro longas horas; como um assalto, um acidente, um beijo. Pois quando o tempo corre rápido, tão rápido ou na mesma velocidade das horas, não perdura na memória. Por exemplo, já estou nesse computador há 6 horas e não vi o tempo passar, no entanto, amanhã, esses preciosos momentos virtuais não estarão na minha memória; são seis longas horas e nenhum instante de tempo EXPERIMENTADO.
O que eu quero dizer é, quando não há uma emoção real, só há tempo "real". Quando há uma EXPERIÊNCIA, há tempo experimentado e, logo, há MEMÓRIA.
A rapidez do tempo é uma ilusão de prazer/o agradável
nunca é significativo/ não ver o tempo passar significa não experimentar.
[Sobre aquela cratera que partiu o chão de São Paulo, por exemplo, houve toda uma discussão se havia "tempo" ou não para uma medida de emergência desde o momento que o chão começou a tremer até a tragédia se consumar. Segundo a empresa responsável pela obra, o tempo transcorrido entre a tremedeira e a cratera foi de mais ou menos 2 minutos. E então, a televisão perguntou para os obreiros (que EXPERIMENTARAM a situação) quanto tempo tinha levado entre a mesma tremedeira e a mesma cratera, ao que eles responderam "mais ou menos 10 minutos". E então a televisão deu a entender algo do tipo "veja só como a empresa está mentindo". Pra mim, parece um tanto óbvio que eles já sabiam a resposta dos operários. Afinal, a televisão é mestre em tempo real x EXPERIMENTEM O NOSSO TEMPO.]
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Foi basicamente isso que absorvi de "A criança no tempo", um livro que vai transformando um enredo clichê em uma história dura sobre o trancorrer dos minutos, horas, dias, meses, anos e vice-versa, através de um personagem que dá vontade de telefonar de madrugada pra chorar junto; notável semelhança com Salinger em seus infanto-juvenis e com Somerset Maugham em "O fio da navalha". Em comum, autores misturando o realismo com os sentimentos de sua época em histórias lineares contadas através de mais e mais sentimento. Sangue; BUSCA. É tudo que consigo dizer no momento. Ah, e o livro ainda tem um quê de física quântica (tudo bem, em algum modismo tinha que cair, caso contrário não seria "tão" retrato da nossa época).
Ah, outra coisa:
As alucinações na verdade não são alucinações; as alucinações são meros experimentos de algo que já aconteceu em um tempo real passado e estão voltando para nos avisar que participamos daquele passado (que nos fazem acreditar tão distante), de forma definitiva e real; visível. As alucinações são os olhos do coração.